sexta-feira, dezembro 23, 2005

Natal é altura dos grandes jantares, com pequenas trocas de prendas, o que para mim é uma alegria, pois adoro o desafio de encontrar a prenda "perfeita". Dar uma boa prenda não é tão fácil e simples quanto parece, pois tem de obedecer a dois grandes factores: que a personalidade de quem oferece esteja, de uma forma subtil, presente, e quem receba goste da oferta.

Como detesto oferecer más prendas evito oferece-las a muita gente, pois o meu orçamento pessoal é reduzido, e por isso esmero-me nas oportunidades que se apresentam nos "jantares de Natal".

Este ano, no sorteio, fui contemplado por alguém com quem simpatizo bastante, mas que tem uma personalidade muito característica. Senti o grau de dificuldade bastante elevado, e por isso ainda mais agradável foi aceitar o desafio. Mais ainda porque já tinha uma prenda semi-decidida, o que, temos de admitir, facilita bastante a escolha...



...Deixei a compra para o dia anterior ao jantar. Como bom português confio na sabedoria da ultima hora. Além disso, embora tivesse muito prazer em partilhar a prenda que tinha pensado, não sentia que ela fosse recebida na plenitude que merece.

Fui à FNAC e diambulei. Procurei o que inicialmente tinha decidido oferecer, mas hesitei. Era uma boa prenda, com bastante qualidade, e com bastante significado, mas faltava-lhe o toque da perfeição. E a perfeição de uma prenda exite quando esta é simultânea e excepcionalmente agradável tanto para quem oferece como para quem a recebe.

Vagueei e vagueei, por entre mostruários e armários, entre poesia e prosa, entre novidades e reedições, perdido na minha indecisão entre comprar aquele livro maravilhoso que já estava escolhido, ou deixar-me levar pelo instinto e encontrar algo que eu sentisse realmente adequado ... Sentia-me inconfortável, pois o desafio estava perdido: a prenda perfeita não aparecia, nem eu a conseguia encontrar.

No meio de tanta indecisão a resposta encontrou-me. Mais que isso: foi sussurrada no meu ouvido. Estava a ver uns livros e sou atropelado por uma conversa de duas ragazzas "e será que têm as leis de Murphy?". Pensei para mim -e muito honestamente, esse foi o meu pensamento na altura- "quem sou eu para desperdiçar um pequeno milagre?".

Perguntei pelo livro. Não tinham em stock. Subi o Chiado, e entrei na Bertrand. Perguntei pelo livro: enviaram-me para a sala 2. E lá comprei "as leis de Murphy para o século XXI". Na noite seguinte, durante a troca de predas, observei atentamente o destinatário antes, durante e após ter desembrulhado o presente. As lágrimas de alegria, e o modo como percorria o livro eram indicadores honestos, sinceros e maravilhosamente agradáveis: o desafio fora vencido...

...E tudo graças a um milagre, pequeno e simples, que por muito pouco quase me passava despercebido. Mas mesmo pequeno e simples, foi um adorável milagre de Natal.

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