terça-feira, dezembro 13, 2005

A justiça serve-se fria, como a vingança. A diferença entre ambas encontra-se essencialmente travo que deixam no palato (amarga primeira, doce a segunda), e na forma como a cegueira da justiça é totalmente complementar ao descernimento da vingança. De qualquer modo frias ambas se saboreiam.

Há uns dias a esta parte a senilidade encarnada que é Soares foi confrontado com certas (más) acções que teve no passado. Num episódio de campanha de rua foi humilhado por um ex-combatente, que o acusou de "ajudar os turras a matar portugueses", pelo financiamento militar dos combatentes africanos com dinheiros resultantes de um assalto a um banco, em mil novecentos e troca o passo.

Senti-me imensamente solidário com o veterano de guerra. Aquela alma é um dos muitos sacrificados da sociedade, que perderam parte da sua juventude a lutar inglóriamente por terras e riquezas que nunca foram suas, enquanto um advogado obscuro ia enriquecendo com diamantes dos "inimigos do estado". Tempo passou, a guerra acabou, e o soldado foi humilhado com a derrota de uma pensão de guerra irrisória, enquanto o advogado prosperou, enriqueceu e capitalizou, quer politica como economicamente, com o fim da guerra, tornou-se presidente carismático, senhor previligiado de portugal.

À luz do tempo a verdade brilha, e, quando a sociedade exorcisou finalmente os fantasmas gémeos do fascismo e do comunismo, este antigo senhor, antes visto como campeão incansável da liberdade e da democracia, aparece-nos com todo o seu explendor de arrogância e oportunismo, fazendo a sua passeata pela liberdade com as roupas que só "os inteligentes conseguem ver".

Em verdade o rei vai nú, despido de ideais e de ideias, envaidecido pela senilidade, e sem descernimento para a nova realidade que o envolve. Os oitenta morreram à muito tempo, mas na mente deste senhor a guerra politica que caracterizou esse periodo continua viva, e talvez seja por isso que, sem pudor, o senhor da politica se sirva das mesmas armas que utilizou à vinte anos atrás, incapaz de ver que há muito foram corroidas e enferrujadas pelo tempo.

O pobre soldado pediu justiça, provavelmente tentou falar a palavra da verdade, apenas para ser amordaçado pelos interesses instituidos, que valorizam mais a reputação do que as boas acções. Pouco mais que um murro consegui disferir, mas conseguiu atingir e enxovalar a já maculada campanha politica onde se pavoneia um senhor tolo e politicamente moribundo. Só tenho pena que em vez do punho e de um velho jornal, o senhor soldado não tenha utilizado daquelas pedras bem grandes, para de uma vez por todas fazer o abutre politico voar para terras bem longinquas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu até concordo contigo, embora não o possa dizer abertamente a ninguém, por uma razão muito simples que devias considerar: os outros não seriam melhores soluções, e ao comentares/atacares/expressares opinião sobre apenas este, passas a imagem (e és bastante convincente para quem não te conhecer, e este post está bastante "influente" mesmo para quem te conhecer) de que os outros, ou algum em particular seria melhor. A tua fluência implica um bocadinho de responsabilidade, e deves considerar explicações extra ;)

Anónimo disse...

Antes de mais quero dizer que tive de fazer uma série de considerações antes de escrever para aqui. Depois de avaliar bem sobre o que iria escrever, optei por não tomar partido de nenhum partido e opinar como pessoa e cidadã comum que sou.

A justiça será pretexto, para manifestações de raiva ou vingança?!? Será necessário o envolvimento em processos escandalosos, para atender altos dignitários?!?

Para começar digo que, independentemente de qualquer ideologia política, sou contra a violência. Não, não tou só a falar na violência física mas tb verbal que na maior parte das vezes “dói” e, principalmente, deixa marcas mais profundas, marcas que levam muito mais tempo a sarar, se se conseguirem sarar...

Neste caso específico, há uma coisa a ressaltar e que esqueceste de nomear, que foi a atitude do Sr. Soares depois de ter sido atacado. Como bom Sr. que é, após o incidente, a sua comitiva abandonou o local, tendo este dito aos jornalistas que não iria apresentar queixa-crime contra o agressor, por se tratar de alguém "que aparenta ser atrasado mental".

Creio que ficou ela por ela, um que o insultou e o tentou a agredir fisicamente e outro que apenas o agride verbalmente. (já para não falar das outras tantas que habitualmente oiço quando mudo de canal…acho que não é necessário uma pessoa espezinhar outras para angariar votos, há formas e formas de o fazer, e esta para mim é sem duvida muito má…)

Que bela estratégia de Marketing! Vamos lá haver se com isto a história de há 20 anos atrás se repete. Claro é, que a agressão física possa rende votos ao agredido, mas a agressão verbal pode, muito bem, rouba votos ao agredido.

A ver vamos…