segunda-feira, janeiro 16, 2012

O orvalho saturava a madrugada. A humidade que se desprendia das folhas quando os raios solares lhes tocavam tornava-se imperatriz matinal. Ele respirava fundo, enchendo os pulmões até ao limite, uma vez e outra, enquanto os seus olhos percorriam, uma vez e outra, o caboco redondo escavado no solo lamacento à força de unha, pau, pedra, sangue, osso, músculo, sacrifício em calor de amor, necessidade forçada porque os impulsos fala mais forte quando se vive livre, quando se ama um rapaz transforma-se rapidamente em homem, uma rapariga transforma-se rapidamente em mulher e mais rapidamente ainda em mãe.

O circunferência onde se iriam encaixar as primeiras pedras da casa de dois que já eram, outro que se anunciava, os outros que seriam também, que venham muitos mas venham fortes porque o mundo prova os seus na doença, peste, fome, guerra, amor, é ainda um rombo no chão lamacento por onde espreitam restos de raizes cortadas, vermes, larvas, minhocas que nunca tinham visto tão escaldante luz, habituados à penumbra, mas que sosseguem porque ainda antes de o dia terminar novamente estarão enterrados e escondidos, um vacuo no solo preenchido com mais obrigações do que sonhos. Uma a uma, mais leve ou mais pesada, todas cobertas de musgos e líquenes, durante a pesada manhã tomaram o seu lugar no alicerce que também seria parede, em cada uma depositada toda a atenção para evitar desencaixes,
quando tenho saudades do frio, é por que me esqueço como frios são estes dias que gelam ossos, mordem as orelhas, anestesiam os olhos.