segunda-feira, abril 23, 2012

No passado sábado tive o prazer de assistir à segunda vitória do Real Madrid sobre a equipa do Barcelona. O ambiente que me rodeava era de festa (pudera, era um jantar de aniversário), o que, de alguma forma, me lembrava a atmosfera que vivi quando, no ano passado, o Ronaldo também silenciou os adeptos catalães.

Um jogo de futebol, por si só, pouca importância tem, não merece ser arquivado na memória durante tempos sem conta, muito menos recordado a frio num blog, apenas por eu o ter sido assistido. Mas o que se encontra guardado na minha memória é bem mais que aquele jogo.

Começa com umas horas mal dormidas, um telemóvel a tocar pouco depois das duas da manhã. O despertar foi um pouco cedo demais, pois o JM e o seu supercarro só chegaram às três. A viagem fez-se pela noite animada de rock 'n' roll, metal e prodigy, e salvo um desvio não previsto pelo centro de Vigo, a viagem decorreu tranquila, até que uma suave madrugada Galega nos acolheu em Compostela. Matabichamos umas sandochas que tinhamos na mochila, compramos dois bilhetes para Mondoñedo (via Villalba), e lá fomos pela estrada fora, ora apreciando a paisagem galega que se estendia a partir do negro asfalto até ao castanho das montanhas, ora dorminhocando entre algumas curvas e contracurvas.


Mondoñedo é uma vila pequena, demasiado pequena para passar um dia, mas o cansaço da viagem exigiu que descansássemos os músculos naquele pequeno lugar até ao dia seguinte. O albergue, um pequeno e acolhedor edifício (recuperado com fundos comunitários), estava aberto. Entramos, colocamos as nossas mochilas, e fomos deambular pela vila. Vimos uma fonte (la ruta da áuga) e conseguimos visitar a belissima Catedral de Mondoñedo (esta faz pandam com a impressionte catedral de Ferrol, pois ambas são sede episcopal da diocese Mondoñedo-Ferrol), onde os frescos sobreviventes contam a estória de um massacre, ocorrido durante a reconquista, em que estranhamente as vitimas seriam as populações moçárabes, chacinadas pelo gume das armas de cavaleiros ibéricos (certas más línguas asseverarão que na realidade os quadros representam a degolação dos inocentes, mas eu vi e sei do que estou a falar, e são cavaleiros ibéricos a maltratar as pobres populações mouriscas). Estendemos a paciência e boa vontade, subindo e descendo as mesmas ruas, regressando ao albergue onde continuávamos a ser os únicos ocupantes, até que as horas se apresentaram dignas para jantar, e na casa de pasto cada um comeu um menu de Caldo de Pescado, seguido por umas costeletas fritas. Depois foi xixi-cama, e graças a deus que finalmente podemos nos deitar naqueles beliches.

A primeira alvorada foi às oito, e depois de um pequeno almoço, começamos a subir a estrada que se afastava de Mondoñedo. A caminhada foi agradável, salvo a surpresa da subida após Lousada... A surpresa não foi subir, porque até então tinha sido um ascender constante, mas a inclinação da estrada, que se pronunciou repentinamente, como se a própria estrada tivesse por vontade romper o azul do céu, muito acima dos moinhos geradores que plantados nas cumeadas em nosso redor, debaixo do olhar gozão de um sol em plena pujança. Pouco depois da hora de almoço chegamos ao albergue de Gontán, onde encontramos finalmente outros peregrinos. A tarde foi reservada ao descanso, e uma brevissisma visita a Abadin. Esta aldeola pouco mais tinha que dois restaurantes, uma cabine telefónica, e uma estrada que a dividia ao meio. O jantar foi obviamente em Abadin, onde o menú foi uma sopinha de ofideos segundada por umas costeletas fritas, e para compor a refeição, um refrescante tinto da região. Com a noite a descer, regressamos ao Albergue, para o muito merecido descanso.