terça-feira, abril 25, 2006

Para saborear conjuntamente com os três textos...



segunda-feira, abril 24, 2006

Suave e lentamente, sem perturbar o delírio os corpos amantes que se dedicavam mutua e exclusivamente, o banco elevou-se nos ares ganhando altitude. Quando estancou encontrava-se frente aos dois Arco-iris, e começou a avançar na sua direcção. Os seus passageiros encontravam-se agora na plenitude da adolescência, e avidamente procuravam descobrir novas formas de beijar. "Tão bom ter-te aqui, comigo", exclamava Carolina, enquanto intercalava cada palavra com um ósculo ardente. Quando interromperam novamente a troca de carinhos voltaram a reparar nos Arco-Iris, no banco que os tinha suspensos na atmosfera, no mundo vazio de tudo debaixo deles. Tudo estava tão diferente e simples, mas por muito bizarra que fosse aquela situação encaravam-na com a normalidade de quem sempre nela viveu.

De repente o banco começou a girar, e o mundo começou a girar em sentido oposto. Os Arco-iris esticaram-se, esticando as suas pontas até estas se encontrarem, transformando-se em duas faixas contínuas, duas auto-estradas paralelas de sete cores, sem principio, sem fim, concêntricas àquele banco. Somente aqueles dois corpos se mantinham inalteráveis, alheios ao reboliço que os rodeava, ignorando a anarquia que os envolvia. Com uma cadência cada vez maior tudo rodava. Mundo, banco, sete cores, chão, mais sete cores, as nuvens, o sol, o céu. Aqueles dois corações continuavam a bater, fortes, dando forças aos corpos que começavam começavam a dançar cadenciados ao mesmo ritmo. "O tempo corre cada vez mais rapido, e dentro em pouco seremos só um." uma voz que era uma mistura das duas vozes. "Sim, mas sinto que já o somos..." respondeu a mesma voz. Alheios ao frenesim de movimentos que os rodeavam, os dois amantes ultimavam os preparativos para grande momento que sentiam se aproximar. O tempo corria, o mundo corria, o banco voava livre, os Arco-irís dançavam em espiral, mas naquelas duas almas apenas uma alma existia, e essa alma era o unico plano de existência de tão grande amor. As mão começavam a ter rugas, as tremuras apareceram, primeiro a ela, depois a ele. "Gosto de Ti" disse a voz unica. E o carinho de um beijo sem luxuria ou sensualidade, carregando anos de dedicada felicidade floriu num dos rostos, enquanto o outro se abriu num sorriso.

O banco hesitava em avançar rumo ao infinto, esperando pelo momento certo, o momento exacto em que aqueles dois corpos finalmente se encontrassem prontos para se entregar um ao outro incondicionalmente. Quando esse momento chegou novamente o assento onde se encontravam voltou a ganhar momento, e dirigiu-se para a escapatória daquela realidade abstracta. Atravessou os Arco-Irís, penetrou na montanha nublosa e saiu encarando uma noite estrelada. Uma faixa de luzes, umas mais brilhantes, outras mais difusas os receberam. Como a poeira dos caminhantes também eles se transformaram em parte do firmamento, mais uma constelação a guiar os viajantes pelo caminho de Santiago.

sábado, abril 22, 2006

O rapaz ficara mudo e atónico. "Oh lindo, não tenhas medo, porque contigo perdi o meu medo." Carolina abraçou-o, e o seu calor, a doçura do seu corpo reconfortou-o. Estava-se sem palavras, agora eram desnecessárias. Os pensamentos complexos, confusos fluiam e desapareciam numa cadência psicadélica. Carolinha voltou a apontar para o horizonte. "Está a aparecer! Está a aparecer! Está a acontecer! Ai, valeu bem a pena esperar por ti!" E, acto continuo, lançou-se num abraço, apertando Marcio contra si. Ele correspondeu, encostando a testa ao pescoço de Carolina. Depois cedeu, e quebrou um primeiro beijo na face da rapariga. Cerrou os olhos, e deixou os lábios expressarem todo o seu carinho, até que, na sofreguidão dos beijos, as bocas se encontraram e se entrelaçaram. Nos céus, contrastando com a abóboda cinzenta e nublada, as sete cores que riscavam o céu desdobravam-se em outras sete faixas criando um novo arco-iris, um irmão gémeo ostentando as mesma sete cores, mas que era imagem espelhada do original. A esperança de Carolina em encontrar o amor tinha-se confirmado, e agora ela satisfazia o seu desejo de paixão nos lábios de quem durante tanto tempo tinha esperado.

Passou uma hora, duas horas, três horas, um mês, um ano, uma vida inteira, uma eternidade. Juntos e abraçados, os dois sentiam-se um. O tempo retrocedeu, e os corpos jovens rejuvensceram mais, até onde a inocência reinava. Duas crianças agora sentadas naquele banco, ela com oito anos, ele com seis. Os beijos tinham parado, dando lugar à simplicidade de duas mão dadas. "Gosto de ti!", confessou a rapariga, sorrindo. "Também gosto de ti. Muito!" respondeu ele, sorvendo o ar, enchendo o seu peito com o ar quente daquela alegria que o rodeava. Olhou em seu redor, e notou que o banco se tinha elevado no ar, transportando-os na direcção dos Arco-iris.

quinta-feira, abril 20, 2006

Quando finalmente chegou, sentiu que tinha chegado atrasado. Não que tivessem combinado uma hora exacta para o encontro, mas ao vê-la sozinha sentada naquele banco de jardim singular teve a sensação que deveria ter chegado bastante mais cedo. Aproximou-se e observou-a. Ela manteve-se absorta, com os olhos fixos no horizonte, os braços esticados segurando o banco, as pernas suspensas no eter que se prolongava do banco até ao chão balançando alternadamente. "Carolina!" sussurou, para de novo se resguardar no silêncio, indeciso sobre o que seria adequado, ou não, dizer.

"Senta-te.", respondeu-lhe ela, "Espero-te aqui todas as tardes, sempre neste banco, sempre à mesma hora, sempre aguardando a tua companhia, sempre com os olhos no arco-celeste, sempre esperando que ele se desdobre em dois, mesmo sabendo que somente contigo ao meu lado tal será possivel." Olhou para Márcio, que se mantinha estático e hirto, transformado em mais uma estátua naquele jardim. "Senta-te aqui, ao meu lado, pois isto de observar o arco-iris tem os seus preceitos. Além disso, daqui a pouco o arco-iris terá que ir embora, rumar até outro banco, iluminar outro jardim, e encantar outra assistência. Há muita gente que o espera ansiosamente, por isso a sua permanência em cada jardim é breve, e daqui a nada já não o conseguiremos ver." Márcio coçou a nuca, apreensivo. Sentia uma angústia genuína no apelo de Carolina, mas por muito que esticasse o olhar não vislumbrava arco-iris algum, e por isso estranhava que o desaparecimento de algo que não se vê causasse tamanha preocupação. "Senta-te, por favor, Márcio. Não sei se ele fica muito mais tempo, por isso senta-te rápido, antes que ele resolva ir embora." Ele questionava-se: "Que raios! Terá a rapariga finalmente enlouquecido, ou estará ela a gozar comigo?" O sol estava forte, e no céu azul e limpido nenhuma nuvem para existia para bloquear o brilho do rei celeste, e muito menos para difractar a sua luz pela abóboda celeste. "Ohh, despacha-te, despacha-te!" gritou ela, quando voltou a encarar o infinito, "Senta-te depressa... Aiii... Bastou ter desviar o olhar, e por pouco ele não desaparecia..." Agora sim, Márcio estava assustado. O semblante de Carolina carregava-se de aflicção, e a sua mão chamava-o incessante. O rapaz decidiu não perder tempo, e caso a sua amiga estivesse louca, também ele iria beber à fonte da loucura.

Sentado no banco, também ele balançava as pernas alternadamente, ligeiramente desfazado do ritmo de Carolina. Olhou para ela, e verificou que a expressão de tormento tinha dado lugar a um sorriso de verdadeira felicidade. "Olha, olha, ele está a voltar."–dizia ela, apontando para o céu– "Ai, tão bonito que ele está hoje! Olha, vê, Márcio, vê!". Ele queria ficar a observar a doçura da face de Carolina, mas, sendo incapaz de contrariar qualquer pedido daquela mulher encantadora, acedeu. Para seu espanto, a paisagem de carros e autocarros, prédios e estradas e todos os que se passeavam no jardim haviam desaparecido. Somente ele, o banco e Carolina se mantinham constantes naquela paisagem. À sua frente, soberbo, enorme e magnífico, o Arco-Irís exibia-se numa enorme tela de nuvens cinzentas.

terça-feira, abril 18, 2006

Mais uma vitima, desta vez com um nome: Dinoman. Uma estrela em ascenção cruzou a imaginação das (e dos) jovens tenagers, para se volatilizar do palco numa estrada portuguesa. Milhares de vidas se perdem todos os dias, milhares mais nem têm oportunidade de viver, revolvendo este mundo no limiar da sobrevivência.

A ti, Dinomen, levanto o copo. Viveste bem, curtiste bem, saboreaste o que muitos nem sonham existir. A ti, granda maluco, a vida sorriu. Sem ironia ou cinismo, boa viagem, nessa nova viagem.

A quem fica, lembrem-se dos que vos estão próximos, pois poderiam ter sido eles a partir sem avisar.

quinta-feira, abril 13, 2006

A tarde de sol e o ceu azul. Na zona dos restaurantes muitos percorriam as ofertas existentes, outros tantos já almoçavam. Debruçado na janela, observando distraidamente o movimento, Luis saboreava o seu cigarro. Era uma tarde realmente bela. Sem vento, sem pressas nem compromissos. O ar estava limpo, tão limpo que lhe permitia observar a paisagem distante, bem para além do rio, bem para além do aglomerado de betão da metrópole, esbarrando no verde da serra. Perdido, viajava os olhos pelas nuances das amálgamas de rochas, liquenes, vegetação e rochedos, tudo contrastando com o azul panorâmico. Que tarde bonita. E que belo o prazer de saborear o cigarro após a refeição, acalentando o corpo com o calor do seu fumo.

Joana encontrara Rui Pedro almoçando. Comprimentara-o, e sentara-se fazendo-lhe companhia à refeição, tendo ela já almoçado antes de sair de casa. Saira de casa para observar os vestidos e as tendências da moda, pois aproximava-se o casamento de que seria testemunha e madrinha. Exigente e selecta, procurava ideias boas e más para adequadamente as aceitar ou rejeitar, quando finalmente escolhesse a toilette na costureira. Na mesa a conversa tinha sido banal, mas agradável, percorrendo ligeiramente as novidades das vidas de vários amigos comuns. Após o café e a conta encerrarem o ritual do almoço de Rui, ambos se levantaram da mesa e passearam descomprometidamente, cavaqueando entre si e oferecendo sorrindos ao resto do mundo.

Rui escutava Joana deliciado pela sua jovialidade, enquanto absorvia toda a excelência daquela tarde de Primavera. Repararam na janela, e reconheceram o jovem Luis, amigo comum de ambos, e filho de amigos comuns a ambos, plantado à janela, saboreando o seu prazer perdido nos seus pensamentos. Joana e Rui sorriram, cúmplices... Sabiam que os de Luis pais não ficariam satisfeitos em descobrir que o seu rebento já adquirira tais hábitos, mas também sabiam que nenhum deles tomaria o papel de delator. Tocaram olhares e sorrisos, o olharam de novo para Luis, que estava totalmente absorto na beleza do horizonte. Sorrindo, acenaram a Luis. Luis, viu movimento, e olhou curioso para aquelas duas personalidades que se destacavam da multidão. Primeiro, curioso, com os olhos semiserrados, para subitamente se abrirem espantados e incrédulos. O braço esquerdo, que apoiava o corpo à janela elevou-se em resposta, numa saudação automática, mais fruto do reflexo condicionado que da alegria, e simultaneamente, os dedos da mão direita, que até então seguravam o cigarro, abriram-se, deixando cair o cigarro, que abandonado ao sabor da gravidade, rodou até encontrar o chão. Embaraçado Luis recolheu-se, fechando a janela. Rui Pedro e Joana continuaram a acenar até Luis se esconder em casa. Riam-se pois finalmente tinham um assunto de conversa divertido, que foi repetidamente degustado e saboreado pelos dois enquanto durou essa magnifica tarde.

domingo, abril 09, 2006

acho uma piada a esta musica... Algo harcore, mas mesmo assim engraçada...





(Wait a minute, man. Hey, check this out, tell it.
It was this blind man, right?
Man, check this out- it was this blind man, right?
He was feelin' his way down the street with this stick, right?
Hey. He walked past this fish market, you know what I'm sayin'?
He stopped, he took a deep breath, he said,
Woooooo, good morning, ladies.
You like that shit, man? Hey, man, I got a gang of that shit, man.
I tell you what- my man on the guitar, fool on the drums,
everybody just crowd around the mic,
I'll tell you all these mutha-fuckin' jokes.
But first, I'ma start it off like this. Hey, help me sing it, homeboy.)

Colt 45 and two Zig Zags, baby that's all we need.
We can go to the park after dark, smoke that tumbleweed.
And as the marijuana burns we can take our turns, singing them dirty rap songs
Stop and hit the bong like Cheech and Chong, sell tapes from here to Hong Kong.
So roll, roll, roll my joint. Pick out the seeds and stems.
Feelin' high as hell flyin' through Palmdale, skatin' on Dayton rims.
So roll, roll the '83 Cadillac Coup de Ville.
If my tapes and my cds just don't sell, I bet my caddy will.

Well it was just sundown in a small white town.
They call it Eastside Palmdale.
When the Afroman walked through the white land,
houses went up for sale.
Well, I was standin' on the corner sellin' rap cds
when I met a little girl named Jan.
I let her ride in my Caddy cause
I didn't know her daddy was the leader of the Klu Klux Klan.
We fucked on the bed, fucked on the flo',
fucked so long, I grew a fuckin' afro.
Then I fucked to the left, fucked to the right.
She sucked my dick 'til the shit turned white.
I thought to myself, Sheba, Sheba!
Got my ass lookin' like a ZEBRA!
I pulled on my clothes and I was on my way,
until her daddy pulled up in a Chevrolet.
I ran. I jumped out the back window,
but her daddy, he was waitin' with a 2 x 4.
Oh, he beat me to the left, he beat me to the right.
The mutha-fucker whooped my ass all night.
But I ain't mad at her prejudiced dad,
that's the best damn pussy I ever had.
I got a bag of weed and a bottle of wine.
I'm a fuck that bitch just one more time.

Colt 45 and two Zig Zags, baby that's all we need.
We can go to the park after dark, smoke that tumbleweed.
And as the marijuana burns we can take our turns,
singing them dirty rap songs
Stop and hit the bong like Cheech and Chong,
sell tapes from here to Hong Kong.
So roll, roll, roll my joint. Pick out the seeds and stems.
Feelin' high as hell flyin' through Palmdale, skatin' on Dayton rims.
So roll, roll the '83 Cadillac Coup de Ville.
If my tapes and my cds just don't sell, I bet my caddy will.

I met this lady in Hollywood.
She had green hair, but damn she looked good.
I took her to my house, cause she was fine,
but she whipped out a dick that was bigger than mine.
I met this lady from Japan,
never made love with an African.
I fucked her once, I fucked her twice.
I ate that pussy like shrimp fried rice.
Don't be amazed at the stories I tell ya.
I met a woman in the heart of Australia.
Had a big butt and big titties, too,
so I hopped in her ass like a kangaroo.
See, I met this woman from Hawaii.
Stuck it in her ass, and she said, Aiiiiieeee!
Lips was breakfast, pussy was lunch,
then her titties busted open with Hawaiian Punch.
Met Colonel Sander's wife in the state of Kentucky.
She said, I'll fry some chicken if you just fuck me.
I came in her mouth. It was a crisis.
I gave her my secret blend of herbs and spices.

Colt 45 and two Zig Zags, baby that's all we need.
We can go to the park after dark, smoke that tumbleweed.
And as the marijuana burns we can take our turns,
singing them dirty rap songs
Stop and hit the bong like Cheech and Chong,
sell tapes from here to Hong Kong.
Hey, wait a minute man, check this out.

I met Dolly Parton in Tennessee.
Her titties were filled with Hennesy.
That country music nearly drove me crazy,
but I rode that ass and said, Yes, Miss Daisy!
Met this lady in Oklahoma; put that pussy in a coma.
Met this lady in Michigan;
I can't wait 'til I fuck that bitch again.
Met a real black girl in South Carolina;
fucked her 'til she turned into a white albino.
Fucked this hooker in Iowa.
I fucked her on credit, so I owe her.
Fucked this girl, down in Georgia;
came in her mouth. Man, I thought I told ya.
Met this beautiful sexy ho;
she just ran cross the border of Mexico.
Fine young thing, said her name's Maria.
I wrapped her up just like a Hot Tortilla.
I wanna get married, but I can't afford it.
I know I'ma cry when she gets deported.

Colt 45 and two Zig Zags, baby that's all we need.
We can go to the park after dark, smoke that tumbleweed.
And as the marijuana burns we can take our turns,
singing them dirty rap songs
Stop and hit the bong like Cheech and Chong,
sell tapes from here to Hong Kong.

Have you ever went over to a girl's house to fuck,
But the pussy just ain't no good? (SAY WHAT?)
And then you're getting' upset cause you can't get her wet,
plus you in the wrong neighborhood?
So you try to play it off and eat the pussy
but it takes her so long to come (SAY WHAT?)
Then a dude walks in. That's her big boyfriend,
and he asks you where you from? (Where you from, man?)
So you wipe your mouth, and you try to explain
(I don't bang.), you start talkin' real fast.
But he's already mad, cause you fuckin' his wife,
so he starts beatin' on your ass.
Now your clothes all muddy, your nose all bloody,
your dick was hard but now it's soft. (WHUT?)
You thought you had a girl to rock your world,
now you still gotta go jack off.

Colt 45 and two Zig Zags, baby that's all we need.
We can go to the park after dark, smoke that tumbleweed.


Crazy Rap, by Afroman

sábado, abril 08, 2006

O que seria da vida sem os pequenos (e grandes) desafios? Uma seca... A estagnação... A impossibilidade de redescobrir novas formas de olhar o mundo.

A natureza do ser humano torna-o resistente à mudança, e receoso de tudo o que altere a estabilidade que caracteriza a realidade que o rodeia. Lutar contra essa resistência é uma forma de nos mantermos a crescer, de nos tornarmos maiores aos olhos do mundo, e aos nossos olhos. Tantas vezes nos negamos a uma mão amiga, a uma aventura fora da nossa casa, a um simples pedido de ajuda, apenas porque sentimos que, de alguma forma, o nosso conforto está ameaçado. Criamos uma teia de comodismo onde nos enclausuramos, mas essa mesma teia torna-se uma prisão em si, que nos impede de alcançar a beleza do mundo exterior.

quinta-feira, abril 06, 2006

Fecho os olhos e sinto o relâmpago que procede o trovão, anunciando a tempestade. O ar em redor torna-se mais fluido. mais frio e mais húmido. As ervas que rodeiam o caminho de terra batida, de flores amarelas e violeta, curvam-se ao vento que cresce, dançam com o seu canto, e preparam as suas roupagens, tornando-as mais verdes e mais vivas, para que cheias de vida possam receber as sementes de vida que irão jorrar dos céus. O vento, fiel arauto da tormenta, canta melodias antigas, fazendo árvores, folhas, ervas, animais se dobrarem à sua passagem. Todos prestam homenagem à Rainha que reclama a sua soberania. Eu também.

Abro os olhos, e vejo o vento que segurando as folhas caídas, as eleva do chão, e lhes permite observarem novamente o mundo do alto. As primeiras gotas atingem a minha capa verde, tão verde como as ervas que cobrem o chão. A Rainha chegará plena e exuberante de poder, e cheia de raiva e fúria para com os imprudentes que não se acautelam devidamente à sua passagem. Outro relâmpago fende os céus, e espalha-se pela terra num estuário de energia. Tão perto que, por sentir um arrepio percorrer as crinas brancas do Trindade, desfaço o feitiço que me prende àquela paisagem. Olho o caminho de terra batida que corta o verde, amarelo e violeta daqueles campos, mergulha num punhado de árvores, e ressurge já perto da entrada do castelo. O grito rouco e longo do trovão atinge-me as costas, e Trindade responde-lhe com um relincho e o seu galope.

Os seus cascos ganham ritmo, e marcam o tempo da canção que o vento canta. Cada vez mais rápido, cada vez mais alto, cada vez mais forte, até se provarem mais fortes, mais altivos, e mais rápidos que o próprio vento. A Rainha estará certamente feliz, pois mais um arauto corre veloz pelo campo verde, anunciando a sua chegada.

"Acautelem-se os incautos! As aves fracos que se recolham aos seus ninhos, os animais às suas tocas, os fracos aos seus refúgios. A Rainha voltou, e faz-se senhora das suas terras."

segunda-feira, abril 03, 2006


A minha tradução do texto "for whom the bell tools" (a versão inglesa encontra-se neste blog, nos arquivos de janeiro de 2006). Utilizei o texto numa oração, no passado sábado, por não encontrar nada da net, tive de o traduzir...

Esta versão ficou incompleta, pois preferi retirar o ultimo parágrafo, para que a complexidade das ideias não se misturasse com um mau português, e dessa forma, retirasse impacto ao texto.


Talvez aquele para quem o sino toca se encontre de tal forma em aflição que não compreenda que o sino dobra para ele. E, possivelmente posso assumir que me encontro bastante melhor do que estou, de tal forma que aqueles que me rodeiam, ao constarem o estado em que me encontro, o tenham feito tocar para mim, sem de que tal eu me tenha apercebido.


A igreja é Católica, universal, e assim são todas as suas acções. Tudo o que faz a todos pertence. Quando uma criança é baptizada, essa acção diz-me respeito; pois essa criança fica ligada ao corpo que é, também, a minha cabeça, e torna-se parte desse mesmo corpo do qual também eu sou um membro. E quando ela enterra um homem, essa acção diz-me respeito: toda a humanidade tem um só autor, e constitui um só volume; quando um homem morre, um capitulo não é simplesmente arrancado do livro, mas sim traduzido para uma língua superior; e todos os capítulos serão assim traduzidos. Deus emprega várias formas de traducção. Alguns trechos são traduzidos pela velhice; alguns pela doença; alguns pela guerra; alguns pela justiça; mas a mão de Deus encontra-se em toda as traduções, e essa mesma sua mão reunir-á todas as nossas folhas dispersas, reunindo-as naquela biblioteca onde todos os livros se encontrarão, finalmemnte, abertos uns para os outros. Assim, o sino que toca para o sermão não chama somente o pregador, mas também toda a congregação, e como tal esse sino chama-nos a todos; mas, especialmente a mim, que sou trazido tão perto desta porta pela minha própria aflição.


Em tempos, ocorreu uma discussão sobre a adequação (na qual tanto piedade e dignidade, religião e opinião, se encontravam misturadas) acerca de que ordem religiosa deveria tocar para as orações matinais; e ficou assente que tocaria primeiro aquela que primeiro se levantasse. Assim, se reconhecermos a legitimidade deste sino, que nos chama a todos à oração matinal, deveremos ficar felizes por nos levantarmos cedo, respondendo ao chamamento universal. O sino toca para quem o reconhece; e mesmo na intermitência do seu dobrar, encontramo-nos continuamente em unidos a Deus.


Quem não eleva o seus olhos aos céus quando o sol nasce? E quem consegue desviar o olhar de uma estrela cadente, quando esta se desfaz na atmosfera? Quem não levanta o seu ouvido para os sinos que tocam? E quem consegue abstrair-se daquele sino que deixa a sua marca efémera neste mundo? Nenhum homem é uma ilha, inteiro em si próprio; todo o homem é um pedaço do continente, um pedaço da Terra. Se um torrão for arrastado para o mar, a Europa fica diminuida, tal como ficaria caso um promontório fosse arrastado, ou a mansão um dos meus amigos, ou a minha própria casa. Da mesma forma, a morte de qualquer homem me diminui, pois eu sou uma parte de toda a humanidade. Assim, nunca procuro saber para quem toca o sino; ele toca para ti.



hoje... ao procurar a parte que não tinha traduzido, encontrei esta versão. ironias...


Pode ser que aquele por quem esse sino dobra esteja tão doente, que ele nem perceba que o sino dobra por ele. Pode acontecer também que eu me julgue tão melhor do que eu realmente sou, que aqueles que me conhecem e vêem meu estado, julguem que ele dobra por mim e eu nem saiba.

Quando ela batiza uma criança, aquela ação também diz respeito a mim porque aquela criança se torna conectada ao mesmo corpo cuja cabeça também é minha cabeça. A partir daquele momento ela é incorporada ao corpo do qual eu também sou membro.E quando ela sepulta um homem, também aquela ação me diz respeito porque toda a humanidade é obra de um mesmo autor, uma obra de um só volume.

Um capítulo não pode ser arrancado de um livro, ele apenas é traduzido numa melhor linguagem e cada capítulo precisa ser traduzido.

Deus emprega diversos meios de tradução. Alguns são traduzidos pela idade, alguns pela doença, alguns pela guerra, outros pela justiça, mas a mão de Deus é onipresente em cada tradução e sua mão reúne novamente todas as folhas dispersas naquele livro que um dia se abrirá novamente.Portanto o sino que dobra anunciando o sermão não chama apenas o pregador, mas convoca toda a congregação. Esse sino é um chamado para cada um de nós, mas muito mais para mim que fui trazido tão próximo à passagem eterna por causa dessa doença.. Existe uma controvérsia, se é que podemos considerar assim ( no qual tanto piedade como dignidade, religião e estima se encontram misturados) sobre como as ordens religiosas deveriam tocar o sino: primeiramente, logo pela manhã convocando para as matinas e assim foi determinado que tocasse sempre ao romper da aurora.. Se pudéssemos compreender a dignidade desse sino que dobra chamando-nos para as orações de cada dia, ficaríamos felizes de acordar cedo para nos aplicarmos a esse exercício que também diz respeito a todos nós. O sino dobra por aquele que julga que não é chegado o seu momento e, no entanto no momento em que o tempo é chegado, ele também vai se unir a Deus. Quem seria capaz de não levantar seus olhos para o sol que se desponta? Quem seria capaz de ignorar um cometa que risca o horizonte? Qual ouvido seria capaz de ignorar o sino que dobra em cada ocasião?

Nenhum homem é uma ilha, um todo por si mesmo. Cada homem é parte de um continente, um pedaço de um domínio. Se um istmo é arrastado pelo mar, a Europa se torna menor, como se fosse um promontório ou a morada de um amigo ou quem sabe a minha própria. A morte de cada ser humano me diminui porque eu também sou parte da humanidade, portanto nunca procures saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.Não podemos dizer com isso que estamos implorando ou chamando a desventura, (como se já não fôssemos desventurados por nós mesmos!), mas que devemos tomar o exemplo do que se passa com o próximo e tomar como nossos suas misérias e infortúnios.Essa seria verdadeiramente uma inveja desculpável, visto que a aflição é um tesouro e raramente encontramos alguém que a tenha em demasia. Não existe um só homem que acometido pela tribulação não tenha crescido e amadurecido tornando-se digno perante Deus por causa do seu sofrimento.Se um homem carrega um tesouro em barras de ouro e não o cunhar em moeda corrente, esse tesouro jamais se desvalorizará ao longo da jornada.

A tribulação é um tesouro por natureza, mas não tem nenhum valor como moeda corrente. Seu valor só aumentará na medida em que formos aproximando do nosso destino, a morada celestial. Um outro homem poderia estar enfermo nesse momento e talvez sua aflição se esconda em suas entranhas como o ouro em uma mina. Pode ser que ele nada aproveite desse tesouro, mas o sino que dobra anunciando-me sua aflição, cava fundo nessa mina e aplica os méritos desse ouro também a mim...Se ao considerar a situação em que ele se encontra, eu tomar como meu o seu exemplo e assegurar minha alma buscando refúgio em Deus que é a nossa única segurança e proteção.



ambos os trabalhos serão uns bons alicerces para uma versão portuguesa final.

Quem sabe, daqui a uns meses...