quinta-feira, dezembro 17, 2009

Passeio os olhos entre as letras. Sinto-me feliz. Fujo para outras terras, embrenho-me em outros sonhos. Adormeço aconchegado entre as folhas escritas, acordando entre paragens para ouvir aquela voz feminina, fria, desumana, seca, que vai cuspindo os nomes das estações.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

"Pela janela mal fechada" já não se vislumbra o teu sorriso, não mais te vejo acenar adeus com uma camisola branca de mangas largas esvoaçando como uma borboleta, não mais partilho contigo o pequeno almoço da minha varanda, calei-me e emudeci a guitarra.

És agora distância transformada em sonho, distante miragem projectada sem fronteiras, longínqua ilusão esperançada pela tua simpatia, gramática trocada em fonemas esquisitos, complexo semântico de idiomas trocados, um calor eslavo arrebatado no vento, uma pena que ao se elevar nos céus ficou para sempre pesada no meu coração.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Copenhaga, Copenhagen, Cóbanhávan, Kaupmannahöfn, Kopenhagen, Kopenhaga, Копенгаген, کپنهاگ, קאָפּענהאַגען, 哥本哈根, 코펜하겐, โคเปนเฮเกน, ケーベンハウン, København, Hopenhagen!

Qual um velho fumador apodrecido com cancro sorvendo ar de um pulmão artificial, burgueses espalhados pelo mundo aguardam esperançosos o veredicto do concílio económico/diplomático que presentemente se desenrola nas frias terras dinamarquesas. Como velhas histéricas e puritanas vozes exigem reclamam apontam contradizem citam desmentem medeiam argumentam explicam demonstram propõem falam, falam muito. Como adolescentes expectantes e crédulos os ouvidos sorvem acreditam rezam vigiam especulam esperançam-se.

Estou-me a cagar, realmente a cagar para o empenho dos negociadores, os seus objectivos, os seus resultados. Estou-me a cagar, pois a solução está além das capacidades oratórias de meia dúzia procuradores encartados pelos interesses económicos de elites transnacionais. Estou-me a cagar porque a forma como as massas reagem é ela consequência do mesmo padrão comportamental que condenou o nosso mundo: a ignorância da consequência de alguns comportamentos individuais, o delegar da responsabilidade civilizacional a uma mão cheia de oligarcas, o conforto consumista que aquiesce às barbaridades ambientais e humanitárias. Estou-me a cagar para uma sociedade que aceita passivamente que a morte, fome, violência, desterro seja o dia a dia de milhões de habitantes neste mundo em favor da satisfação de caprichos, lazeres, ócios, mediocridades, petulâncias, manias, modas. Estou-me a cagar para uma classe média culta que despreza a natureza, as suas belezas, não aprecia a beleza na variedade de cores na foração da primavera, não olha o padrão pintarolado no céu nocturno pelas estrelas, que não conta as caracteras da lua quando reflecte a luz solar sobre a terra, não acompanha o padrão do voo das aves ou dos insectos mas olha invejosamente para o rasto do avião que rasga o azul. Estou-me a cagar porque não vale a pena chorar a morte de um amigo que não soubemos prezar, mimar, acompanhar, encorajar, fortalecer, compartilhar, tal como temos demonstrado não sabermos ser amigos da nossa biosfera.

sexta-feira, outubro 30, 2009

através do vidro duplo desfilam os tijolos castanhos e cinzentos, aproximando-nos da saida. dentro da carruagem corpos e vontades são pesados, avaliados, esquecidos a maior parte, poucos permanecem na memória mais que meio minuto. as vidas desfilam ignorando-se mutuamente, mudas de sentido, avarentos na partilha, fingem-se invisiveis, ignoram outras presenças. a viagem é um frete, um desperdicio de vida, um adiantamento da eternidade dentro do solo. dentro da terra deixamos de pertencer ao mundo, somos parte das trevas, a humanidade enterrada no solo metropolitano.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Que não saibas o que penso, porque sei que não te quero,
Não vivas a presunção da certeza em memória esquecida.
Não procures um sorriso simpático, ou um olhar sincero
E muito menos um coração derretido por alegrias da vida.

terça-feira, outubro 13, 2009

sinceramente...
...sinto-me tolo por acreditar
que serei louco se conseguir
aceitar e alcançar.
...sendo tolo por entender
que a confusão que há-de vir
dará menos riso que sofrer.
...a roda gira e gira e gira
e eu salto fora sem hesitar
ou agarro-me com fé à mentira?
...a tombola já roda e sorteia
a cautela que me irá calhar
é esperar pela lua cheia.

quarta-feira, setembro 23, 2009

O mundo dá voltas muito muito engraçadas...

sábado, setembro 05, 2009

Falta só meia hora. Espero pancientemente, e com o maior orgulho de ver Liedson entrar em campo com a camisola nacional, rompendo com ideias mesquinhas, e envergonhando a mentalidade do "orgulhosamente sós" que contamina e renega a dimensão cultural do povo português.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Relato de Viagem nº 7

Querido Peregrinário deixo o relato da minha sétima aventura em terras Galegas, que vivi na companhia do peregrino João Miguel.

Dia 0 - despedidas & viagem

O dia amanheceu cedo, quente e luminoso pelas terras de São Jacinto, onde estávamos acampados com o Agrupamento de Olivais Sul. Acordamos à hora da alvorada porque o cansaço acumulado desses dias, e as horas de sono em falta a tal nos obrigaram. Por nossa vontade teríamos nos levantado um pouco mais cedo, para aproveitar ao máximo o dia, mas, nesta vida, nem sempre o corpo consegue corresponder aos devaneios da mente. Com banho tomado e barriga cheia com o pequeno almoço despedimo-nos de todos a preceito e fomos com as nossas mochilas até ao carro. Arrumamos novamente tudo o que tínhamos a arrumar e preparamo-nos para uma viagem interessante para Norte, para além da fronteira luso-galega. Seriam cerca das dez da manhã quando saímos, possivelmente até um pouco mais cedo. A viagem foi suave, e parámos somente uma vez nas estações de serviço Portuguesas.

Na Galiza saímos da autoestrada, para evitar as portagens, e aproveitamos a estrada nacional 550 para melhor ver as paisagens que acompanham o Caminho Português. As colinas e montanhas, os rios e as florestas rebuscaram recordações de cinco anos atrás, quando pela primeira vez nos aventuramos a pé, desde Valença a Compostela.

Chegados a Santiago deixamos o carro estacionado perto da gare dos autocarros, e apanhamos o autocarro das quatro horas para Lugo (oito euros cada bilhete... ui, até doeu...), onde chegamos após mais hora e meia de viagem.

A estadia na cidade de Lugo foi deslumbrante, embora extremamente curta. A estação de autocarro era um pouco afastada do casco histórico de Lugo, por isso a primeira impressão que tive foi negativa, pois Lugo, pelas janelas do autocarro parecia-me uma cidade vulgar, cheia de casas e apartamentos banais espalhados pelas colinas e estendendo-se até às margens do rio, sem capacidade de me despertar interesse especial. Fiquei de boca aberta com a surpresa que me estava reservada. O centro de Lugo está contido numa muralha romana com cerca de dois mil anos. Óbidos e Monsaraz podem ter a sua mística e destaque entre as localidades lusitanas, pois estão harmoniosamente encrostadas entre as paredes protectoras dos seus castelos, mas não passam de pequenas pérolas quando comparadas com esta preciosidade que remonta aos tempos do Império.

O albergue estava lotado, portanto orientamos alojamento perto de uma das doze portas da muralha, onde descansamos e recuperamos forças para a caminhada.


Dia 1 – de Lugo a Melide

A noite foi vivida oscilando entre o sono profundo, fruto do cansaço de uma semana de escutismo e de seiscentos quilómetros de viagem misturado com meia garrafa de vinho morangueiro ao jantar, e da ansiedade repleta de sonhos irrequietos, quase pesadelos, onde virgens meio loucas, inseguras e fogosas nos atacam com beijos quentes e apaixonados, sedentos de amor, áridos de projectos e desertos de sensatez. Acordei assustado, confuso, certo de ter trocado os fusíveis da libido e do terror durante a noite, pois o que quase era um sonho erótico, caso se tivesse desenrolado adequadamente, arrancou-me ao sono como um shot de adrenalina, bastante antes da hora e não consegui voltar a pregar olho. Aprendi que a nunca mais pensar em quem não se pensa especialmente antes de ir dormir, para evitar acordar irritado e ressentido por desperdiçar tempo em quem não desejo pensar.

Saímos do hostal por volta das seis e meia da manhã. O sol ainda não havia nascido, e nas ruas jovens a adolescentes bebiam, trepavam e saltavam as muralhas. Encontramos o caminho e seguimos entre árvores e urtigas pelos baldios da cidade enquanto esperávamos a luz do dia. Rapidamente chegamos aos limites de Lugo, e para não tomarmos o caminho errado logo ao inicio, solicitamos à primeira pessoa que encontramos que nos indicasse a direcção de Santiago, e assim seguimos caminho, procurando atentos um local acolhedor onde tomar o desayuno.

Saímos de Lugo atravessando a ponte que cobre o rio, e o dia despertou quando caminhávamos seguindo a margem, que abandonámos rapidamente para começarmos a subir as encostas em direcção a Melide. Durante horas palmilhamos estradas e caminhos, e a cada passo percorrido mais desejosos ficávamos de aquecer o estômago com um cafezinho com leite e umas bolachitas. Aldeias e vilas não existiam, só estradas de alcatrão, caminhos de terra batida, colinas verdejantes e vales fecundos. Verde, verde era a aragem fresca que nos alentava debaixo do céu nublado e cinzento, e provia de um tapete estendido sobre a terra por quilómetros e quilómetros em nosso redor, um tapete matizado em tons de verde, ocasionalmente dourado, ocre ou castanho, um teado orgânico elaborado por gerações de camponeses lavrando, semeando, podando, plantando, adubando, colhendo, orando e abençoando o fértil do solo galego.
Infelizmente, para nós, dois caminhantes incautos, tamanha beleza rural significava ausência de actividade humana (exceptuando a agrícola e a pecuária) só avistamos o primeiro café cerca das dez/onze horas, que convenientemente estava fechado para férias, por isso, rendemo-nos ao caminho matamos a fome com pêras verdes, cidras ácidas e amoras silvestres. Caminhamos e caminhamos durante bastante tempo sem avistar outros peregrinos, e só ocasionalmente encontrávamos alguém pelos campos, ou de tempos a tempo um carro passava.

Eram cerca do meio dia, tirando ou pondo meia hora, quando nos cruzamos pela primeira vez com outros peregrinos. Era um grupo pequeno de adolescentes que também haviam saído de Lugo nesse dia, e que iriam pernoitar em São Pedro da Retorna (ou como raios se chama a terra). Nós havíamos planeado a pernoita em Palas de Reis, a 35km do ponto de partida, e como apenas faltavam 15km (e um pequeno almoço condigno) decidimos continuar a andar. É sempre um erro caminhar sem mapa, especialmente quando seguimos indicações que não nos conduzem onde julgamos nos dirigir, e descobrimos mais tarde, a custo de muito peregrinar, que Palas de Reis era por um qualquer outro trilho, e que durante 10 km nem uma casa avistariamos.

Já eram três horas da tarde quando encontramos o marco dos 66km pintado com um Arco-íris. Logo em frente um casebre humilde tinha uma bandeira colorida gritando Pace hasteada. O JM bateu à porta, para pedir água para o seu cantil, e de dentro duas simpáticas raparigas responderam convidando-nos a entrar, comer, beber, descansar, a pernoitar se fosse o nosso desejo, a almoçar ou jantar consoante o nosso apetite, a tocar e cantar, a escrever no livro de visitas. Ficamos a repousar durante hora e meia, enquanto bebemos um cafezinho com leite e canela e cantamos musicas dos xutos, e depois fizemo-nos novamente ao caminho energizados pela cafeina.

Foi bastante agradável chegar a Melide, cercva das seis da tarde. O albergue municipal estava cheio, devido ao afluxo dos muitos turigrinos que fazem o Caminho Francês no verão, e por isso ficamos alojados num pavilhão de congressos.


Dia 2 - de Melide ao Monte do Gozo

Iniciamos o segundo dia com um compromisso não assumido de tentar alcançar o Monte do Gozo, a cinco quilómetros de Santiago. Andámos, andámos, andámos, andámos. A uns 7 quilómetros antes do monte do gozo começaram a aparecer placas indicando a proximidade do mega-albergue com capacidade para 800 pessoas. É incrível como o tempo e a distância são conceitos relativos que se distorcem com o cansaço, e como uma hora de percurso se transforma em duas ou três quando os músculos das pernas e os pés doem, e como duas horas se transformam rapidamente em quatro e a próxima meta não chega, pelo contrário, afasta-se cada vez mais, multiplicando os quilómetros que faltam através de curvas, desvios, subidas, descidas, alcatrão, suor, fatiga, e como infalivelmente uma voz aparece nas nossas cabeças criticando a estupidez de um percurso tão longo, rezando por um sofá acolchoado reservado a peregrinos escondido na próxima esquina, entretendo-te com trivialidades tentando não calcular quanto já andaste ou ainda tens para andar nesse dia, elaborando planos da próxima aventura que obviamente em que tudo será mais sensata, invejando uma tarde em redor de uma piscina com uma cerveja e boas vistas. Os últimos quilómetros antes de chegar à Catedral são sempre os mais desagradáveis, a paisagem torna-se mais urbana, os caminhos asfaltos prolongam-se ininterruptos, as pequenas manadas de vacas, cabras, ovelhas esfumam-se substituídas por manadas de turistas que enriquecem as gentes da terra, aldeamentos para turistas efémeros oferecem cama, pequeno almoço, selo , coca-cola, três pratos ao jantar, num pacote de repouso a preço de conveniência, sebes, árvores, valas, dão lugar a grades, grades, prisões que impedem os curiosos de se aproximarem do aeroporto para que não levem com um avião na cachola, de invadirem a estação de televisão, de entrar pelo parque de campismo abandonado em que já funcionou uma piscina que ainda espicaça a imaginação dos que passam.

Entramos no albergue do Monte do Gozo cerca das sete horas. No balcão da entrada, enquanto efectuava mecanicamente o ritual de carimbar a credencial e registo dos nossos dados, a recepcionista verificando poucos selos registados comentou "Camiñaste pouco, non", respondi "Temos é poucos selos. Começamos a andar em Lugo... Ontem...", o que a fez arregalar os olhos, reparar na data de cada carimbo, bater com o indicador na testa, exclamavar "Vosotros son locos! Isso san muitos quilómetros". "Sim, é verdade, foi uma estupidez, é daquelas asneiras que apenas se fazem uma vez na vida... Nunca mais repetir".


Dia 3 - Santiago de Compostela

Acordamos cerca às nove e pouco, arrumamos as tralhas, e aproveitamos para observar o espaço destinado aos peregrinos. Existe uma zona reservada às tendas, antes do perímetro vedado, e dentro do perímetro dezenas de barracos compridos equipados com cozinha, sanitários e beliches albergam os caminhantes. No centro de tudo existem os restaurantes para os vários bolsos, as máquinas de café, os bares, e mais algumas lojecas que não perdemos tempo a cuscar porque, afinal de contas, ainda estávamos em peregrinação.

Demoramos cerca de uma hora a chegar à Catedral, e depois foi o roteiro do costume: arranjar um hostal perto da Catedral, para evitar andar carregado com a mochila, carimbar a credencial e obter a Compostela, ir à missa do Peregrino, e passear, passear, passear, para não deixar os músculos arrefecer.

segunda-feira, julho 13, 2009

Alive nunca mais! De que serve um festival quando se está a pagar por musica que não se pode usufruir? Bem, para fazer dinheiro, gerar retornos, circular capital, através de uma aplicação de uma industria de ócios e desperdícios!

segunda-feira, julho 06, 2009

On the first day God said "there will be light", and there was light.

On the second day he said "there will be skies and oceans and continents" and the Earth was born.

On the third day he said "there will be grass and trees and herbs and shrubs and weeds with flowers and fruits and all that good stuff" and a green chlorophyllic carpet covered the barren lands and painted the vast oceans.

On the forth day he cried "there will be lights on the skies, always dancing around the Earth. And the sun and the moon and the stars and the planets and nights and days came to be.

On the fifth day he touched the waters and the skies and said "let them be filled with birds and bees and squids ans sharks and whales and flying fishes and seagulls and penguins" and all those little animals came to be. He also made the pigeons, so he could piss of other animals for a few eons.

On the sixth day God was rather happy with himself, so he gathered some leaves from the tree of knowledge, made a huge spliff and started having the craziest ideas. Made the creatures of the land, all the birds that can't fly, and hid the bones of massive creatures on the earth bowels. He also made a self conscious but delusional being called man, an set him loose on the world. He started wondering what sort of mind games could he use to play with man. He then made a woman and went to sleep with a grind in his chin.

On the seven day God woke up early and realized what he had done by creating man. So he made Perfection: a human soul that would be grafted on special ones from time to time. And so, I came to love Perfection.

sexta-feira, junho 26, 2009

Os dias solarengos de Junho, quando não exageradamente quentes, são prazenteiros e ideais para vaguearmos pelas ruas e praças no coração da baixa, beber umas ginjinhas nos tascos centenários onde o chão se cola às solas das sandálias e cuja clientela eclética tem sempre estórias dignas de serem apreciadas, ver os artistas, extorquistas, prostitutas, exibicionistas, vendilhões e aldrabões que inundam a Rua Augusta com ofertas e assédios, nos guiarmos pelas textura de odores a batata frita, pastelaria fresca, caracóis com oregãos, sardinhas na brasa, bifanas com vinho tinto da pipa. Num desses dias as deambulações levaram-me até à miscelânea de culturas que se encontram pela praça do Martim Moniz. Ciganos, asiáticos, africanos, indianos e causasianos cruzam-se nas ruas, alguns acelerados pela pressa citadina, outros pasmaceiramente vendendo ou comprando vícios apregoando a mercadoria com a cumplicidade no olhar.

Meti a mão no bolso para contar os trocos e bastou chocalhar um pouco para certificar que tinha suficiente beber umas cervejas sem preocupações. Caminhei pela praça, ignorando as ofertas e assédios, e sentei-me no fava rica, onde me refresquei com uma imperial debaixo do olhar sempre vigilante do Castelo de São Jorge. "Mao, Mao", ouvi, pouco antes de pousar o copo pela segunda vez na mesa de alumínio, "Mao, amigo", ecoou mais alto e perto a voz de sotaque asiático, enquanto uma palmada seca nos espaldares fez-me estremecer e por pouco não entornei o sumo de cevada sobre a mesa. "Tao", gritei alegremente quando me virei e vi duas caras de meia idade, sorrisos abertos e olhos rasgados irradiando alegria. Levantei-me a apertei Tao num abraço, e cumprimentei a esposa com dois beijos. Conhecia-os há vários anos, pois haviam sido donos de um restaurante na rua dos Douradores onde me tornei cliente regular mesmo antes de, por uma daquelas ironias que o destino tem, me tornar colega do seu filho na universidade.

Sentarem-se e pediram uma água com gás -sabor de groselha para a senhora, de limão para Tao- e ficamos a repenicar nas memórias.

terça-feira, junho 16, 2009

O calor do ar húmido tornava-o tangível e conforme esbracejava, para me refrescar com pequenas lufadas de ar e afastar o lençol para o mais longe possível, sentia-me a nadar pelo etéreo. A noite estava tão escura quanto quente, mas a pouca luz que entrava pelas frestas da persiana aclarava o quarto com a mesma intensidade que sol do meio dia.

"E agora, qual é o caminho?", perguntou-me a rapariga vestida com uma camisa de manga curta branca, calças de ganga azul escuras, cinto de couro e punhos apoiados na bacia. Não fiquei surpreendido pela sua súbita aparição, ou com a calçada de granito cinzento ladeado por um passeio de calcário branco que se materializou sob o alcatifado do quarto. O entorpecimento deixava-me aceitar aquele acontecimento como algo natural, uma continuação do sonho que estava a ter. Como disse, não fiquei surpreendido com aquela aparição espectral, nem com o desaparecimento do tecto e das paredes, ou com a minha impavidez de observador sentado em posição de lótus na cama de lençóis que condiziam com o meu pijama azul marinho, nem com a freneticidade que as nuvens percorriam o céu vazio de astros. Nem tão pouco quando reparei que o cabelo escorrido, alaranjado, pastoso, baço, mas bem cortado, alinhado pelos ombros, escondia uma cara enrugada, seca, negra, mirrada como o miolo de uma noz bichada. A minha boca ficou aberta estarrecida sem palavras congelada quando, ao meu lado, uma mulata respondeu à pergunta que eu não tinha intenção nenhuma de responder. Era uma jovem bastante bonita. Vestia umas calças pretas, uma camisola colorida com pinceladas de branco, azul, e vermelho, e tinha umas botas de coro. O cabelo encaracolado, escuro mas brilhante, pendia livre pelos ombros, sem carrapitos ou adereços. Tinha um perfil nubio, e a uma pele de chocolate belga que realçava a sua beleza de Deusa africana. "Um caminho não está escolhido, mesmo que diante de nós se estenda uma só opção!". A convicção da minha advogada de ébano proferiu surpreendeu-me, pois não representava qualquer das minhas ideias: eu estava bloqueado na sua beleza, e as minhas divagações não eram sublimes nem banais, mas primitavemente obscuras e carnais.

sexta-feira, junho 12, 2009

Num consultório sem pacientes esperava sentado, solitário, a atenção da técnica de serviço. Estava a responder à convocatória para a doação de medula, e era necessário fazer os testes de sangue preliminares. O tempo pouco tempo que ali estive sentado, aguardando uma oportunidade para ser um contributor activo nesta sociedade, fez-me pensar e ponderar os dinheiros, mecanismo e recursos que obscuramente se movimentam, e que parasitam o altruísmo dos indivíduos. Eu, o que está pronto a oferecer gratuitamente parte da minha vida para outra vida prolongar espero e aguardo recatadamente numa cadeira, o paciente de certeza que vive ansiedades esperando que uma boa nova chegue mais cedo do que tarde, e aqueles que deste mundo onde tecidos, carne, sangue, pele, pelos se trocam como selos tiram rendimento passeiam-se pachorrentamente, ignorando as nossas urgências.

Na recepção, onde a declaração de insenção de responsabilidade da empresa tem de ser assinada pelo dador, estão dissecações empilhadas em dossiers amarelos, onde todos registos de peças de corpos retalhos podem ser consultados, mexidos, manipulados e novamente arquivados, para uma futura necessidade.

terça-feira, junho 09, 2009

Hoje soprou um vento de nostalgia que me levou até onde a minha memória já não consegue se aventurar desacompanhada. Lembrei-me dos "nicks" do messenger, que durante anos têm invadido computadores alheios ignorando o decoro e o bom senso. O meu coração teve um baque quando não os encontrei no desktop, não estavam nos meus arquivos, e neste blog apenas existia um histórico bastante antigo e desactualizado! Achei que era desperdício esquecer parte da minha vida, pois nestes nicks sempre se reflectiram estados de espírito obscuros, piadas reles, trocadilhos pessoais, picardias subtilmente dirigidas, deleites impertinentes, vontades incontroladas, segredos bem disfarçados. É todo um universo de vontades e desejos, pensamentos e reflexões condensados em uma ou duas frases dedicadas ao mundo, à querida, a mim, e ti, e a ninguém em especial, cuja piada consiste na ausência de subtileza e sentido. Procurei num disco antigo meio avariado pelos ficheiros que havia deixado lá deixado abandonados, rebusquei as "queridas" nos logs das conversas que mantenho com uma senhora puta com quem mais regularmente falo, e acrescentei tudo o que encontrei ao que já estava registado neste blog. No fim, contei linhas, por simples curiosidade, e quando, já de olhos bastante arregalados cheguei ao número 150, achei piada a ter um número tão redondo de nicks a publicar. 150 frases emblemáticas que têm sido cuspidas ao longo de 5 anos, num abraço à loucura do hedonismo social que nos manipula.

Espero que vocês, leitures respeitáveis, apreciem com bom humor as frases que se seguem.

E para ti, Querida, minha musa diária e companheira nas horas de delírio, antes que prossigas com a leitura que te é especialmente dedicada, quero te bem ciente do espaço que tens na minha vida. Por isso, sempre que me encontrares na rua ou num café, sempre que comigo estiveres a partilhar o mundo vivendo bons ou maus momentos, sempre que juntos mergulharmos em noites boémias de dança e musica, sempre que que juntos formos ao teatro, ao cinema, a um concerto, a um recital, sempre que aproveitemos um dia de ar livre para saborear a beleza da criação ou sempre que juntos partilhemos luxúrias, ascetismos, diletâncias, despojamentos, orações, sensações, desejos e sonhos, sempre sempre, olha-me nos meus olhos, e lembra-te que estou a pensar "faz-me um bico".

2004_11_22 Querida, esquece os segredos que não te conto: lembra-te dos segredos que guardamos

2004_11_23 Querida, ontem pensei em ti, mas qd olhei para o meu lado não estavas lá...

2004_11_24 Querida, hoje sonhei contigo, mas qd acordei não te encontrei na minha cama... Obrigado por não me acordares

2004_11_26 Querida, o k fizeste ao meu telemovel? Agora tá como tu: o OK não funciona :(

2004_11_27 Querida, gosto memo de te ver na cozinha... e ver-te agarrada ao fogão, ou sentada na bancada... é tão sexy

2004_11_28 Querida, FDX!!! É so fingires te estas a afogar, e k os tubaros são duas botijas de oxigénio!!!

2004_11_29 Querida, ganhaste... A tua tromba continua mais rija k a palma da minha mão :(

2004_11_30 Querida, estou maravilhado! :D Lavadinha e rapadinha: é assim k eu gosto de ti! já não tenho d andar a cuspir pelo!

2004_12_08 Querida, só te dou pão e água? E a porrada não conta?

2004_12_10 Querida, se olhar para ti me faz sorrir é pk ainda não tiraste as pinturas

2004_12_12 Querida, és tão alucinante que troquei as drogas por ti! Agora o dealer não te quer devolver!!! :(

2004_12_16 Querida tas sempre no blablablabla... FDX... Mas os meus genitais não te enchem a boca?

2004_12_16 Querida tas sempre no blablablabla... FDX... Mas será k não consigo calar essa boca??

2004_12_17 Querida tentei falar, tentei amar... tentei até te compreender... E embora eu tenha aceitado, continuas muito cara!

2004_12_20 Querida, com tanta gente à nossa volta mal consigo dar-te atenção... paciência, mas uma orgia é uma orgia

2004_12_23 Querida, se matei o Pai Natal, era pk ele tava despido, na nossa sala, e tu tavas a lamber-lhe os testiculos. Desculpa :(

2004_12_25 Querida, o teu bacalhau tava divino, o teu grelo gostoso. Misturado com saliva fex um minhete marabilhoso. (f)

2004_12_26 Querida só tu me fazes vir aqui no meio na noite... Já de dia costuma ser tua amiga loira...

2005_01_12 Querida trocaste a fechadura e puseste-me na rua. Depois não reclames de eu dormir em casa da tua amiga :)

2005_01_17 Querida ela é feia, grossa, grande e dura... e é toooooooddaaaa tua :)

2005_01_23 Querida o alcool, as drogas e o rock 'n' roll já não me dão alegria... nem tu... :(

2005_01_23 Querida melhor k kebrar o gelo assim de repente é trinca-lo suavemente, e ir saboreando a aguinha k vai escorrendo

2005_01_31 Querida: o teu corpo é o farol que me guia pela incerteza das marés revoltas... Posso arrear ancora na tua baia?

2005_02_04 Querida, dizias tu que as tuas aulinhas de trombone no conservatório não serviam para nada.... ui.... maravilhoso!!!!

2005_02_14 Querida, no teu aniv dei-te uma plaquinha d prata. No natal foi uma plaquinha d ouro... Hoje é dia de uma placona acima :)

2005_03_10 Querida.... sexo e drogas e rock 'n' roll é o k kero... mas tu só me mois a cabeça...

2005_03_14 Querida não é preciso engolir... é só para chuchar até deixar de pingar...

2005_03_15 Querida a nespereira já tem flor :) Não tarda nada e já me posso labuzar.... HUHUHH... Nêspera pá malta o/

2005_03_21 Querida, se gostas tanto d andar à chuva depois não te queixes por te sentires molhada...

2005_03_30 Querida sei que coentros e rabanetes não vão à mesa de um rei... Mas hoje é dia de coentrada.

2005_05_16 (f) Querida, se uso roupa velha, dizes que ando rasgado; se é nova vou estragar... Para ti só nuzinho memo :S

2005_05_17 (f) Querida curtes tanto musca, fados e guitarradas... ai tã linda :D:D:D bora lá a mais uma gaitada (x)

2005_06_02 Querida chegou o mês da revisão. O carro vai para a oficina e tu para casa da mamã... (f) manda comprimentos ao gato Botas

2005_06_08 Querida podes comer onde quiseres... desde que seja um sitio quente e confortável conta comigo...

2005_06_14 Querida estou tão cansado do trabalho que nem consigo dormir, por isso hoje não vou a casa...

2005_06_16 Querida sem mim és um café amargo. O meu amor é o torrão de açucar que se derrete dentro de ti.... (f)

2005_06_29 Querida posso ser teu empresário mas não posso montar-te o negócio todo os dia.

2005_06_30 Querida se o sexo é uma guerra, o teu corpo é um verdadeiro campo de batalha... E em tempos de guerra todo o buraco é trincheira!

2005_07_05 Querida as minhas palavras ressoam em ti. Se tu és o sino, eu sou um badalo... BADDDJJJOIIINNGGGG

2005_07_07 Querida... ter outra gaija? tás louca? nã preciso de mais um animal a queixar-se dos meus arrotos e dos meus peidos! (f)

2005_07_15 Querida o teu odor permanece no meu quarto horas e horas depois de saires... Nã comeces a usar sabão k nã é preciso!!!

2005_07_19 Querida... mas é claro que uma cerveja dá para os dois. Eu bebo pelo gargalo e tu chupas pelo canudinho!

2005_07_23 Querida quando não consegues falar sou eu que fico sem palavras... eh bom :D

2005_07_25 Querida hoje é dia de pescaria. Leva a caninha que eu levo a minhoca Saltarela. Nem vai ser preciso engodar...

2005_07_26 Querida antigamente ainda tricotava umas pegas e umas peugas, mas agora só tu me mexes na agulha e nos novelos

2005_07_29 Querida, se ganho o euromilhões levo o dinheiro desapareço contigo.

2005_09_01 Querida, fui, vim, voltei e cheguei... E o Sheepmobile nã se queixou...

2005_09_02 Querida vou para a Noruega dedicar-me à pesca. Viva o sol e o mar, o bacalhau e o sequeiro!!!

2005_09_06 Querida a inspiração foi tão grande que me limpaste de ideias e pensamentos. Agora tou sequinho, sequinho... :(

2005_09_08 Querida: de uma vez por todas.... Eu só provo se eu cozinho!

2005_09_12 Querida apito ou não apito?

2005_09_13 Querida apitas ou não apitas?

2005_09_16 Querida temos de mudar a água ao marisco pk o berbigão já está com a lingua de fora...

2005_09_23 Querida pequenina... Se não tens escada para chegar ao céu nã te preocupes... logo logo já vês estrelas...

2005_09_27 Querida, se tu és o meu furação, o que sou eu a ti?

2005_10_04 Querida, o meu coração é o teu tesouro, e tu és a minha pirata. Keep it safe... e nã partas a perna de pau...

2005_10_07 Querida, se mordes outra vez levas com uma cuspidela na testa!!!!

2005_10_11 Querida se continuas a comer bananas desalmadamente passas de macaquinha a macacona...

2005_10_13 Querida compraste uma mala muito bonita :) Uma mala com gosto é sempre bonito de ser ver :)

2005_10_17 Querida tu gritas, esperneias, bates e espancas... fico sempre maravilhado :o

2005_10_19 Querida quer monte a cima, quer monte abaixo, a locomotiva avança a todo o vapor. Muito carvão queima essa fornalha!

2005_10_24 Querida astronomia contigo é sempre um momento especial. Gosto de estar contigo, para ver estrelas, planetas e cometas :)

2005_10_27 Querida é tão frondosa a ervinha que cresce nas terras baixas. Vou podar enquanto aguentar...

2005_11_07 Querida apresento-te os três reis magos: à direita tens o Gaspar, à esquerda Baltazar, e o careca é o Belchior.

2006_01_09 (f) Querida, atão o teu melro já canta? Ele que se venha apôsar no mê raminho, que leva uma chumbada às tensas de tânta cantoria.

2006_01_30 (f) Querida, batia leve, levemente, como quem chamava por ti; foste ver, e era tanta neve...

2006_02_08 Querida não compreendo a tua pronuncia. Queres que eu vá "atanchalas" ou "até Chelas"??? :S

2006_02_10 Querida, quero chupar o teu doce e lamber o teu salgado...

2006_02_13 Querida tu és o verdadeiro espirito da Democracia. E, por isso, vou meter mais um voto na tua urna...

2006_02_14 Querida feliz dia dos Encalhados... E q encalhes cd vx mais e melhor tds os dias da tua vida, c mt convicção e alegria :) (f) (k)

2006_02_15 Querida não sabes qual foi a minha prenda? bem... então vamos ter uma conversinha sobre os passarinhos e as abelhinhas...

2006_03_01 Querida nã vale a pena lurificar a arma pk nã se pode andar à caça... as rolas andam com gripe :(

2006_03_03 Querida... também não sei... mas juntando a minha imaginação e à tua destreza manual, isto só pode ser correr bem...

2006_03_04 Querida sou tão linda sou tão linda! Sou uma verdadeira flor... E tu és tão fofa e tão fora... Queres ser o meu colibri? (f)

2006_03_08 Querida feliz dia da mulher... Que laves muita loiça e que não partas a bilha...

2006_03_10 Querida a estabilidade não é um valor em si, mas sim um valor em mim...

2006_03_22 Querida, sou eu o bicho papão, que te rouba o sono e chafurda no chão

2006_03_27 Querida... como Maria... e tu?

2006_03_28 (f) Querida, se queres mesmo dar graxa trás o óleo Jonhson e uma garrafa de Drambuie

2006_04_03 (f) Querida: há 15 anos a tratar amigdalites.... já mereço um Honoris Causa!

2006_04_04 (f) Querida vou-te derreter nas minhas mãos, enrolar-te como um rebuçado, e sugar-te devagarinho...

2006_04_07 (bah) Querida sou muito pão pão, queijo queijo. Mas tu és só pão pão pão pão...

2006_04_10 Querida, estou cansado da tua cama, estou dorido do teu sofá, mas ainda aguento ver a paisagem na tua varanda.

2006_04_11 Querida, vou-te contar a estória do patinho feio: antes de tudo, o patinho estava no ovo... (deixa só por o patinho no ovinho...)

2006_04_15 Querida quando a (S) cheia se eleva nos ceus, os lobos uivam e as (bah)s saem para caçar...

2006_04_18 Querida tantas vezes te encontraram acesa no Cabo da Roca, que foste contratada para farol

2006_04_19 Querida ando mesmo cheio de fomeca... Só o pensamento de pitar dessa carne de porco à alentejana faz-me delirar :)

2006_04_20 Querida orientaste um moussinha toda docinha. Foi mesmo bacano.

2006_04_28 Querida, se queres mesmo partir, eh na boa... Digo mais: a bem ou a mal eu vou é partir contigo também!!!

2006_05_02 Querida, se a estupidez pagasse imposto nem o euromilhões cobria as tuas dividas ao estado.

2006_05_04 Querida percebi que ainda andas a tirar o curso de Otária pela forma como te aplicas na disciplina de Estupidez Avançada (f)

2006_05_08 Querida o banho de de desprezo tão grande que quando chegaste a casa ainda vinhas húmida. (f)

2006_05_08 Querida nem tudo o que se diz é para ter sentido... mas sim para ser sentido!E agora, estás a senti-lo? (f)

2006_05_09 Querida, aprende a acentuar as palavras, ou então levas uma lambada para ver se acordas para a vida!

2006_05_10 Querida, o rodovalho é como tu: um peixe-chato que sabe muito bem...

2006_05_12 Querida, dizes que eu não posso com uma gata pelo rabo... hum... eheheheh.... isso pensas tu... :)

2006_05_13 (f) Querida não sei se morro ou se mato, mas gosto do jogo do gato e do rato (f)

2006_05_15 Querida se queres ser a minha prenda vem com um lacinho no teu embrulho. (f)

2006_05_16 Querida se queres ser a minha vem, e trás o embrulho vazio. Assim posso te encher o pacote. (f)

2006_05_17 (f) Querida, a pedido de muitas familias não falo mais contigo! :-# Agora, é só com mordaça, chicote, e muito cabedal (f)

2006_05_19 Querida monta la Vacona... Monta la Vacona... Monta la Vacona... Monta la Vacona... Monta la Vacona... Viva o Metro de Lx...

2006_05_20 Querida eu não estou mais velho. Estou é maduro e pronto para consumo generalizado pelas massas...

2006_05_26 Querida, acorda-me suavemente apenas vestida com um sorriso... E mostra o teu umbigo \o/

2006_05_30 Querida, o Saci não é um mito: é um escravo k fugiu para o mato depois d lhe cortarem as duas pernas, e ainda anda a saltitar :S

2006_06_06 Querida, se eu kiser passar uma tarde a ler, vou ler um livro! Agora, desabelha do meu msn e vem-te comigo

2006_06_08 (li) Querida, um cavalo não se doma só com mimos e caramelos, também é preciso muito chicote! Vais conhecer a pedagogia da dor!

2006_10_25 Querida, duche para quê? Um banho de chocolate e não se fala mais no assunto!

2006_11_02 Querida és um doce passarinho. E o teu ninho tão fofo e aconchegante!

2006_12_22 Querida veste-te de prenda que vais ser delegada pela rena do nariz vermelho!

2006_12_22 Querida mais vale bater coros descarados do que com os cornos no chão!

2007_01_03 Querida, não és muito esquisita, mas por vezes bastante estranha

2007_01_05 Querida tu e as tuas ideias luminosas fazem de mim candeeiro... cheira-me a curto circuito...

2007_01_09 Querida, desculpa, mas estou aqui pela experiência...

2007_01_10 Querida vamos brincar ao esconde-esconde do papa-formigas!

2007_01_20 Querida o próximo a jogar é o homem das cavernas!

2007_01_23 Querida se andas com problemas na tubagem agarra-te à luva, ou contrata um canalizador! Agora pingar a toda a hora, não...

2007_03_05 Querida, os meus pecados lavam-se com água e sabão; os teus com criolina.

2007_03_06 Querida, dá-lhe com a alma que eu dou-te com o cinto!!!

2007_03_29 Querida, hoje para sobremesa quero o teu famoso "Mamute Surpresa"

2007_04_10 Querida, cheira-me a espirito de Pita Morangueira. Devo ter pisado alguma merda no caminho de casa.

2007_04_15 Querida, enquanto arranjares alface fresca e lavadinha, eu oriento pepino grande e maduro. Mas tomates não entram na salada! disse:

2007_04_18 Querida, hoje é dia de estudo: de manhã filosofia, à tarde biologia, e à noite jatecomia.

2007_04_20 Querida, se não curtes jogar com o baralho todo, brinca com o meu baralho porque só tem três naipes: copa, ouro e pau.

2007_04_26 Querida tu não precisas de um simples pau; precisas de um barrote com um nó de forca na ponta!

2007_05_17 Querida não mexas, senão isso ainda arma, e depois é o cabo dos trabalhos para mandar abaixo!

2007_06_27 Querida é melhor receber um mail com virus, que uma carta com antrax.

2007_07_23 Querida, agora não é a melhor hora para espancares o penetra!

2007_09_20 Querida, se eu sou nabo, tu és um magnifico nabal!

2007_09_25 Querida, não devias passar tanto tempo tão perto do forno, senão nunca mais te passam os calores!

2007_10_04 Querida, vamos fazer mortais na falésia?

2007_10_23 Querida, a loucura que te inunda é a loucura que te fecunda! Vende-se loucura a grosso e a granel!

2007_11_10 Querida, um bom carro é como uma boa árvore: dá sempre boa fruta!

2007_11_14 Querida, claro que consigo fazer marcha atrás contigo no carro... Mas às vez falta-me a arte e a paciência

2007_11_15 Querida, andas para aí a abrir com o escape roto, depois não te queixes se a multa é pesada!

2007_11_18 Querida, com tanto cromo a pagar-te dividas, investe num plano poupança caderneta!

2007_12_05 Querida, quando o teu perfume passa até os passarinhos cantam

2007_12_07 Querida, salta fora da palmeira, ou ainda me esmagas os cocos

2007_12_10 Querida, à pala dessa mania de te armares em porca, sempre que largo uma bufa penso em ti

2007_12_12 Querida pareces um moranguinho sumarento, maduro e viçoso, e só falta um topping de chantilie

2008_02_08 Querida, não sejas chatinha e abre logo isso!

2008_02_25 Querida, Deus fez a terra fecunda: o homem fecunda a terra inteira...

2009_02_10 Querida, antes de dizeres que é muita areia, vê primeiro a camionete!

2009_02_11 Querida cada um faz a sua e Deus faz a de todos

2009_03_17 Querida estás constipada? É falta de vitamica C... Trás as tuas laranjinhas que fazemos uma laranjada.

2009_04_15 Querida, se és a Bela Adormecida, eu sou o Lobo Mau. Permite-me apresentar-te o Capuchinho Vermelho

2009_05_15 Querida, como as coisas andam, o futuro é ser enfermeiro de porcas.

2009_05_28 Querida o meu amor por ti é como o meu amor pela pátria: metes-me em sentido e és saudada por uma salva de 21 tiros

2009_05_29 Querida se sabes contar com a lingua, conta-me mil e uma noites

2009_06_01 Querida não sei escrever licensiatura porque não sou licensiado. Mas tirei o curso de picheleiro, e ensino-te a mexer na torneira

2009_06_02 Querida não está tempo para salada de fruta ou salada fria: é tempo para ir à praia rachar a tua melancia

2009_06_04 Querida, és tão boa tão boa que se te dá para comer papel desatas a cagar origamis

segunda-feira, junho 08, 2009

Queridos leitores

Tenho recebido algumas reclamações acerca da veracidade dos meus relatos. Venho, por isso, reparar os mal entendidos que possa ter deixado a pairar sobre a blogosfera. O pneu do carro não foi retirado por quatro homens, mas sim por dois explorados pelo sistema: um magrebino e um goense, que por tuta e meia (menos de cinco dedos de ginjinha) perderam horas imensas, queimaram calorias e neurónios para conseguir dar a volta a quatro porcas velhas e rijas.

segunda-feira, maio 25, 2009

Como o mar fustiga ciclicamente as rochas da costa durante as marés vivas, a sanidade e a clarividência assolam-me sem perdão durante as horas longas horas de sobriedade e secura. Sem o mínimo dó, sem rasto de piedade, sem nenhum sinal de condescendência, sem agigantado respeito ou enganadoras condolências, como uma mó inflexível a realidade apresenta-se com uma verdade despida de preconceitos criados por tradições provincianas, dos estereótipos promovidos pelos meios de comunicação, de dados adquiridos presumidos por humildes e arrogantes, de linhagens reais de pedigree patrício, ou castas intocáveis na sua miséria, e despida me confronta com a simplicidade do mundo que gira e gira e roda inexoravelmente.

No cume da rocha segura encaro as ondas revoltas que explodindo salpicam o ar, saturando-o de salitre corrosiva que penetra na pele, se infiltra através das roupagens, que me invade o olfacto e salga o mundo. Esbracejo como um maestro, acompanhando a cadência das vagas que avançam e recuam, e que lambendo a pedra a desgantam continuamente.

Sou eu a rocha que se dissolve ante a força incontrariável os oceanos, atingindo por fluxos de realidade que me transformam em areia da praia. Sou eu o mar que marra contra a muralha e a reduz a seixos. E sou o céu que testemunha complacente toda a transformação que se dá à minha volta.

quarta-feira, maio 13, 2009

Que aventura foi trocar o pneu! Demorei uns cinco dias a mudar aquela porcaria, e foram necessários quatro homens! Não admira que o carro não se vá a baixo: a carroçaria deve ter sido feito a partir dos destroços da nave do Super-Homem, de tão rija que é.

quarta-feira, maio 06, 2009

O meu carro tem um pneu furado. Estou desolado com esta traição do equipamento, pois apanhou-me totalmente desprevenido. Nunca contei que este carro tivesse este problema. Já teve falta de óleo, queimou a junta de cabeça, rebentou o radiador, foi contra pilares e autocarros, quase atropelou pessoas, mas pneu furado nunca. Ainda estou em choque. Agora lá terei de sacar do macaco, arregaçar as mangas e fazer o que nunca esperei fazer: trocar a porcaria do pneu!

Carro ingrato, deste mais um passo para a tua reforma!

quarta-feira, abril 29, 2009

Onde estão os pedaços de mim que não guardei?
Onde se encontram os meus fragmentos de vida que decidi não registar?
Espalhados num mundo onde nem eu nem tu, meu amigo, os conseguimos encontrar.

Que memória guarda as complexidades que já sonhei?
Onde escondi o livro de apontamentos na hora de acordar?
Nem eu sei, nem tu sabes amigo, e a esta hora só podemos imaginar.

quarta-feira, abril 22, 2009

Expande e cresce, investiga minuciosamente o pormenor, indaga quem por ti passa pela resposta que necessitas, sente o tempo que por ti passa com a sua carga e é a ti que deixa mais carregado.

És o testemunho das vidas que te rodeiam, centro de confluência das atenções devidas e indevidas que com dúvidas e arrogâncias te julgam para te diminuírem, em que ignóbeis te marginalizam onde indigentes idolatram, onde procuras a justificação de um sentido ligado e consistente de uma realidade sobre-humana. No labirinto não encontrar a saída é sinal de a porta ser o caminho emparedado que percorres, mesmo que a saída seja escura, obscurecida por esquinas recondidas recheadas com inimigos macabros.

terça-feira, março 24, 2009

Novamente pego no blog. Novamente peço desculpas pelo interregno. Novamente sei que ninguém as vai ler. Novamente sei que não importa. Novamente é uma palavra feia.

Onde importam as desculpas, se ninguém foi ofendido? Importam por serem genuínas, por serem sinal de arrependimento, uma forma de procura da correcção, um retomar, um regressar, um corrigir. Se não temos força para nos corrigirmos, então não teremos humildade para aceitar a correcção fraterna. Se não temos coragem para regressar ao ponto onde nos despistamos do trilho, não conseguiremos rumar serenamente por azimutes às vezes desconhecidos.

terça-feira, janeiro 20, 2009

Quando pela primeira vez encontramos alguém que até então desconhecia-mos, cruzamos o olhar, medimos a pessoa, verificamos a altura, especulamos o peso, apreciamos a cor do cabelo, a cor dos olhos, a forma de andar, os tiques, os maneirismos, as roupagens, julgamos as palavras pela sua cadência, pelo conteúdo, pelo contexto. Efectuamos uma inspecção visual e social, influenciada por estereótipos e preconceitos, e criamos um primeiro esboço daquela personalidade.

sábado, janeiro 17, 2009

Meia hora passou e ambiente o perdeu quaisquer traços urbanos. Nem casas, nem ruínas, apenas o verde escondia as pedras caídas da montanha, e o caminho de terra castanha. Estou com fome e com sede, disse o camisola amarela, Já não tens bolachas? perguntou o casaco azul, Não, durante a viagem, entre as conversas e as cartadas, foram todas. O grupo parou. Entreolharam-se em silêncio e num movimento continuo retiraram as mochilas e começaram a remexer entre os sacos. Apareceram três maçãs, uma banana, um pequeno pacote de leite, mais algumas bolachas. É o que temos para hoje, Pois, estavamos a contar fazer compras na aldeia, Sim, ali pelos vistos ninguém vende nada, e nem sorrisos oferecem a quem passa. Algum desconforto e inquietude começou a ser visível nos esgares que se lançavam para o ar. Paciência, temos de seguir caminho, ir em frente, e na próxima paragem fazemos compras, São mais vinte quilómetros!, Tantos?, E não trouxemos comida nas mochilas porquê?, Uma aldeia com comboio devia ter um supermercado, Devia mas não tem, nem a estação tem um cafezinho ou uma pasteleria, Estação? Qual estação? Aquilo não passa de um apeadeiro no meio de uma aldeia, Qual apeadeiro? Aquilo não é nenhum apeadeiro e muito menos aquela terreola uma aldeia! Não passa dum lugarejo onde os comboios param para os maquinitas mandarem uma mijinha no mato com umas casinhas à volta a marcar o local, Pois, paciência, vamos é andando que a conversa não nos fará chegar mais cedo, Sim, só queria beber um pouco de água antes de começar a caminhar. Epa, o meu cantil está vazio algum de vocês têm um pouco de água que me possam dispensar?. Novamente os olhares se arregalaram e cruzaram. Chocalharam-se cantis e franziram-se sobrolhos. Porreiro, nem comida nem água, vai ser bonito vai, Voltamos à cidade?, Para quê, ainda pensam que somos gatunos ou malfeitores, Isso era no século passado, esta gente já não pensa assim!, Se estás certo disso então voltemos atrás. Após um curto silêncio o camisola amarela colocou a mochila às costas: Que se foda, para a frente é que é caminho. Existirão com certeza fontes ou ribeiros mais à frente. A mochila vermelha começou a mover-se, as outras mochilas seguiram atrás.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

O comboio chegou à cidade encrustrada nas montanhas dois minutos antes do que estava previsto no horário. Dentro da carruagem ainda quente colocámos as mochilas às costas, ajeitando as presilhas para melhor equilibrar o peso. A nossa carga sobrava acima da nossa cabeça, mas a tua mochila vermelha mal se notava, pequena, mirrada e ainda assim espaçosa, quase vazia como no teu primeiro dia de escola.

Nós estavamos excessivamente acasados: escondiamo-nos do frio em bunkers caqui de fibra e lã, mas tu vestias uns calções um pouco mais escuros que a tua mochila e uma camisola de alças amarela, que tinhas comprado nas férias do verão anterior. Durante a viagem a roupagem que cada um trazia ou não trazia, usava ou não usava, vestiria ou não vestiria, que iria carregar, que iria usar, que se arrependeria de ter deixado em casa havia sido um assunto recorrente e desgastado. Nessas conversas os espiritos haviam até se haviam exaltado, com dois jantares apostados em meio da confusão.

Ao sair do comboio a frescura da montanha gelou ossos e arrepiou espinhas. Isto não era para ser este gelo!; Já sabias que vinhas para aqui. Sim, mas não disseste que estaria tanto frio, senão tinha vindo um pouco mais preparado! Oh que porra, falamos nisso durante semanas. E isto são montanhas, já sabias que seria bastante mais frescas que a cidade. Frescas sim, gelo não! A tua face torcia-se com o desconforto e o descontentamento. Mas não importa. Assim que começarmos a andar o calor mata o desconforto!

Saimos da estação. A aldeia era pequenissima, e parecia quase abandonada àquela hora. Existiam poucas casas, e nenhuma tinha mais do que dois pisos. Na rua, além do nosso grupo, só outras três almas desafiavam o frio, bastante encasacadas e desconfiados de estrangeiros.