quarta-feira, maio 02, 2012

O terceiro dia acordou bonito, o céu azul com algumas nuvens prometendo desafios, o sol ora sorrindo ora desaparecendo como uma criança que brinca às escondidas. O caminho abandonou Abadin, runo à Terras Chá, embrenhou-se pelos campos verdejantes da Galiza, onde a calma e os curso de água abundam.


Nesse dia o desafio aumentou pois a chuva resolveu aparecer (possivelmente para abençoar a semana pascal), e, irrelutantemente nos complicou a vida. Mais uma vez comprovamos a dificildade e desprazer de caminhar durante horas a fio encapotatos e atascados nos lamaçais que formam no meio dos caminhos. Nas pausas para o descanso retempera-se as forças com amendoins, ovos cozidos, barritas de cereais, cubitos de marmelada, umas laranjitas e uns tragos de água, para novamente voltar a caminhar.

A meio da tarde chegamos ao albergue de Villalba, que fica localizado algumas centenas de metros antes deste centro urbano. É um edificio recente, modesto, mas acolhedor. À porta já se encontravam alguns peregrinos, que esperavam alguém que abrisse a porta. Após uma meia hora uma alma caridosa apareceu e lá nos permitiu entrar nas instalações, avisando-nos que mais tarde (por volta das cinco) apareceria alguém responsável para registar as nossas presenças e carimbar as credenciais. Aproveitamos para entrar, tomar banho, lavar uma roupinha e descansar o corpo enquanto esperavamos pela carimbagem. Depois fomos dar uma pequena voltinha até à cidade para ver as vistas, fazer umas compritas e jantar. A cidade era pequena, e salvo uma torre de menagem meio transformada em hotel, não tinha nenhum interesse especial. O jantar foi um menu qualquer onde, para não variar, o segundo prato foi umas costoletas de porco. Depois da janta recolhemos albergue, e deixamos a noite passar.

Acordamos, tomamos o pequeno almoço, e preparamo-nos para a chuva, que abundantemente se espalhava pela terra. Todo o dia a chover, 20km bem molhados até chegar a Baamonte... Baamonte é um lugar pequeno, com meia duzia de casas, uma mercearia, um snack bar, um restaurante, estrada nacional que divide a aldeia em duas bandas, e uma magia encantadora.

segunda-feira, abril 23, 2012

No passado sábado tive o prazer de assistir à segunda vitória do Real Madrid sobre a equipa do Barcelona. O ambiente que me rodeava era de festa (pudera, era um jantar de aniversário), o que, de alguma forma, me lembrava a atmosfera que vivi quando, no ano passado, o Ronaldo também silenciou os adeptos catalães.

Um jogo de futebol, por si só, pouca importância tem, não merece ser arquivado na memória durante tempos sem conta, muito menos recordado a frio num blog, apenas por eu o ter sido assistido. Mas o que se encontra guardado na minha memória é bem mais que aquele jogo.

Começa com umas horas mal dormidas, um telemóvel a tocar pouco depois das duas da manhã. O despertar foi um pouco cedo demais, pois o JM e o seu supercarro só chegaram às três. A viagem fez-se pela noite animada de rock 'n' roll, metal e prodigy, e salvo um desvio não previsto pelo centro de Vigo, a viagem decorreu tranquila, até que uma suave madrugada Galega nos acolheu em Compostela. Matabichamos umas sandochas que tinhamos na mochila, compramos dois bilhetes para Mondoñedo (via Villalba), e lá fomos pela estrada fora, ora apreciando a paisagem galega que se estendia a partir do negro asfalto até ao castanho das montanhas, ora dorminhocando entre algumas curvas e contracurvas.


Mondoñedo é uma vila pequena, demasiado pequena para passar um dia, mas o cansaço da viagem exigiu que descansássemos os músculos naquele pequeno lugar até ao dia seguinte. O albergue, um pequeno e acolhedor edifício (recuperado com fundos comunitários), estava aberto. Entramos, colocamos as nossas mochilas, e fomos deambular pela vila. Vimos uma fonte (la ruta da áuga) e conseguimos visitar a belissima Catedral de Mondoñedo (esta faz pandam com a impressionte catedral de Ferrol, pois ambas são sede episcopal da diocese Mondoñedo-Ferrol), onde os frescos sobreviventes contam a estória de um massacre, ocorrido durante a reconquista, em que estranhamente as vitimas seriam as populações moçárabes, chacinadas pelo gume das armas de cavaleiros ibéricos (certas más línguas asseverarão que na realidade os quadros representam a degolação dos inocentes, mas eu vi e sei do que estou a falar, e são cavaleiros ibéricos a maltratar as pobres populações mouriscas). Estendemos a paciência e boa vontade, subindo e descendo as mesmas ruas, regressando ao albergue onde continuávamos a ser os únicos ocupantes, até que as horas se apresentaram dignas para jantar, e na casa de pasto cada um comeu um menu de Caldo de Pescado, seguido por umas costeletas fritas. Depois foi xixi-cama, e graças a deus que finalmente podemos nos deitar naqueles beliches.

A primeira alvorada foi às oito, e depois de um pequeno almoço, começamos a subir a estrada que se afastava de Mondoñedo. A caminhada foi agradável, salvo a surpresa da subida após Lousada... A surpresa não foi subir, porque até então tinha sido um ascender constante, mas a inclinação da estrada, que se pronunciou repentinamente, como se a própria estrada tivesse por vontade romper o azul do céu, muito acima dos moinhos geradores que plantados nas cumeadas em nosso redor, debaixo do olhar gozão de um sol em plena pujança. Pouco depois da hora de almoço chegamos ao albergue de Gontán, onde encontramos finalmente outros peregrinos. A tarde foi reservada ao descanso, e uma brevissisma visita a Abadin. Esta aldeola pouco mais tinha que dois restaurantes, uma cabine telefónica, e uma estrada que a dividia ao meio. O jantar foi obviamente em Abadin, onde o menú foi uma sopinha de ofideos segundada por umas costeletas fritas, e para compor a refeição, um refrescante tinto da região. Com a noite a descer, regressamos ao Albergue, para o muito merecido descanso.

quinta-feira, março 15, 2012

Urodziłem się w pięknym Alentejo w 1977 roku. Teraz mieszkam w Lizbonieale codzienne marzę o Polsce.

quarta-feira, março 14, 2012

Explodindo como uma tépida beijoqueira, a primavera insinuou-se, e nós, atiçados por uma cerveja fresquinha saboreada debaixo uma azinheira, perdemos os pudores e queimamos a distância que separa a Capital da Nação Alentejana. As curvas foram poucas, sempre em frente, porque a planície dourada abraçava o descanso do fim de semana, e sem perder muito tempo com as vistas rapidamente encontramos a linha do mar estendendo-se pelo infinito.

sexta-feira, março 09, 2012

A minha bussola gira incerta impelida pela vontade de partir, mas sente-se insegura para onde deve traçar o azimute. A rota poderá seguir para norte, para os diferentes caminhos que a cada o ano que passa assedia as minhas pernas, onde os velhos trilhos beijam os meus pés até à dor e à exaustão, caso a bussola se guie pelo lado direito do meu coração, o lado que ama o verde silêncioso oferecido pela natureza e os sorrisos trocados entre bons dias com outros caminhantes. Mas, se guiada pelo lado esquerdo, onde bate o outro ventrículo, a rosa dos ventos pintar-se-à de vermelho e branco, gritando vida, fogo, paixão, luta, resistência, curiosidade, aprendizagem.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Olho-te nos olhos. As ondas quebram suavemente ao alcançar a praia, derramando a sua espuma para preencher os grãos de areia, perfumando com maresia a manhã quente. Não nos importa o mar imenso sustentando o céu azul, a confiança do sol que domina o dia, o incessantemente vento gozão e inoportuno, o definhar das algas acima da linha d'água. Guardamos as palavras, apenas as almas se exprimem, puras e sinceras.

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Quando sonho, sonho a cores.

Já sonhei verde e vermelho, e quando sonhava assim, preenchiam-me essas duas cores. Era esperança que conduzia vida, esperança que inspirava calor, esperança inocente mas determinada, vida que crescia, energia que pulsava. Depois azul e branco. Aprendi a ser mais do que eu, ser história e orgulho, nação na nação, embaixador de nós, transpor o contemporâneo e o popular, abraçar a diversidade e a riqueza acumulada por séculos acobertados de azul e branco.

Hoje, pela primeira vez, sonhei branco e vermelho. 

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Primeiro: motivação; segundo: arrumação; terceiro: mudança.

Limpar, arrumar, reorganizar o espaço em que vivemos é reorganizar, arrumar, limpar as ideias dispersas e espalhadas pelos confins da nossa mente. Missangas de várias cores devidamente encarreiradas e alinhadas por um fio estruturante apresentam-se como um colar bonito onde cada uma consegue refulgir plenamente, permitindo-nos discernir a beleza esférica singular de cada uma das bolinhas coloridas. Para saborearmos devidamente cada momento da nossa existência necessitamos criar um alinhamento estrutural no plano físico que nos permita estruturar a dispersão que existe nos nossos variados planos abstratos, evitando que a anarquia disfórmica de milharentas ideias se aglutine comprimindo o pensamento, reduzindo-o a um empedrado indestrinçável de sonhos perdidos, frustrações acumuladas, desejos irrealizados, memórias perdidas, sucessos esquecidos.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

O orvalho saturava a madrugada. A humidade que se desprendia das folhas quando os raios solares lhes tocavam tornava-se imperatriz matinal. Ele respirava fundo, enchendo os pulmões até ao limite, uma vez e outra, enquanto os seus olhos percorriam, uma vez e outra, o caboco redondo escavado no solo lamacento à força de unha, pau, pedra, sangue, osso, músculo, sacrifício em calor de amor, necessidade forçada porque os impulsos fala mais forte quando se vive livre, quando se ama um rapaz transforma-se rapidamente em homem, uma rapariga transforma-se rapidamente em mulher e mais rapidamente ainda em mãe.

O circunferência onde se iriam encaixar as primeiras pedras da casa de dois que já eram, outro que se anunciava, os outros que seriam também, que venham muitos mas venham fortes porque o mundo prova os seus na doença, peste, fome, guerra, amor, é ainda um rombo no chão lamacento por onde espreitam restos de raizes cortadas, vermes, larvas, minhocas que nunca tinham visto tão escaldante luz, habituados à penumbra, mas que sosseguem porque ainda antes de o dia terminar novamente estarão enterrados e escondidos, um vacuo no solo preenchido com mais obrigações do que sonhos. Uma a uma, mais leve ou mais pesada, todas cobertas de musgos e líquenes, durante a pesada manhã tomaram o seu lugar no alicerce que também seria parede, em cada uma depositada toda a atenção para evitar desencaixes,
quando tenho saudades do frio, é por que me esqueço como frios são estes dias que gelam ossos, mordem as orelhas, anestesiam os olhos.