terça-feira, janeiro 31, 2006

O que é para ti Deus? Como convencias um niilista da Sua existência?

Perguntas faceis de colocar, mas cujas respostas são dificeis de encontrar. Como se pode explicar algo que é pleno, que é tudo, que nos rodeia a quem o nega? Duvido que se consiga explicar de uma forma aceitavel, pois a experiência da fé, e aceitação da presença de Deus é algo de muito intimo e pessoal.

O Pai escolhe-nos, indica-nos caminhos, ampara-nos nos maus momentos, acaricinha-nos na felicidade. E, se eu que n'Ele acredito; eu que n'Ele confio; eu que a Ele me quero entregar tantas vezes, tento explicar a alguém a simplicidade do amor de e em Cristo, as palavras fogem-me, as ideias escampam-se, a imensidão do amor recusa-se a ser exprimido em meras palavras... Só pela intervenção social activa e preocupada, pelo cumprimento constante dos mandamentos do amor, pela entrega real aos meus irmãos, pela coerência entre as ideias defendidas e as boas acções praticadas poderei, ao fim de tempo suficiente, fazer o céptico acreditar e ver a bondade do Senhor.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Some will sing a song
To reel 'em in
It's a song I sung before
And a song I'm gonna sing again
I mean every word
I don't mean a single one of them
Oh Lord, make me pure
- but not yet

tell a joke
tell it twice
if noone else is laughing there why am i
i split myself both times and laugh till i cry
oh Lord,please make me pure
-but not yet

I don't have to try
I just dial it in
I've never found a job that for me was worth bothering
I got a ton of selfish genes and lazy bones
beneath this skin
Oh Lord, make me pure
- but not yet

Smoking kills
Sex sells
I've got one hand in my pocket but the other one looks cool as hell
I know I'm gonna die so my revenge is living well
Oh Lord, make me pure
- but not yet

I stopped praying
So I hope this song will do
I wrote it all for you
I'm not perfect but you don't mind that, do you?
I know you're there to pull me through, aren't you?

So I look for love
I like the search
And I'll be standing for election all across the known universe
Every president gets the country she deserves
Oh Lord, make me pure
- but not yet

And I've been seeing
Somebody's wife
She said she'd leave him for me and I said that wasn't wise
You can't lie to a liar because of all the lies
Oh Lord, please make me pure
- not yet

Make Me Pure, by Robbie Williams

sexta-feira, janeiro 27, 2006

...de um mail que recebi.


Onde as pessoas são amigas uma das outras e não são invejosas.

A Paz mora nas pessoas que não querem guerra nem insultam os outros.

A Paz mora dentro do nosso coração, no céu e em todo o mundo.

Nos Oceanos também.

Estas e outras frases foram escritas por crianças da escola primária do Externato “As Descobertas” onde deixámos duas perguntas: “o que é a Paz?” e “onde mora a Paz?”.

Os alunos tinham entres sete e dez anos e deram respostas extraordinárias.

Primeiro porque todos, sem excepção, têm uma noção exacta de que só é possível haver paz se as pessoas se aceitaram umas às outras.

Depois porque revelam uma lucidez incrível na forma como analisam uma questão universal.

Interrogados sobre a Paz, respondem que “é quando as pessoas se respeitam” ou “quando é uma sociedade bem formada em que todos têm direitos e igualdades, em que a guerra é inútil e há um mundo sem armas em que os conflitos são feitos em palavras”.

Converter todas as armas em palavras é, porventura, a maneira mais subversiva de pôr fim à guerra. A única maneira sensata, aliás. Quando uma criança escreve que a “paz é dizer desculpas por eu ter feito mal a agora vamos ser amigos” comove pela candura mas arrepia pela impossibilidade da coisa. Infelizmente, hoje em dia, pedir desculpas não basta para travar uma discussão e muito menos serve para suspender uma guerra.

O que dói é que todos nós sabemos isto mas as crianças ainda não. As crianças ainda acreditam que “a paz mora na Ásia, na Oceânia, na América Central e na América do Sul”. Não sabem nem suspeitam que é tudo mentira. Acreditam na paz como o pequeno (e adorável) Joshua, do filme “A Vida é Bela”, acreditava nas regras do jogo que o pai inventou para o manter divertido e feliz em pleno campo de concentração nazi.

“A Paz mora no céu, onde Deus vive” escrevem uns, porventura mais esclarecidos. Ou cépticos, depende do ponto de vista. Outros mais poéticos, dizem que “a Paz é ser livre, é como viver no Paraíso” ou “é o silêncio, não lutar, não poluir as ruas nem o mar”. Outros, ainda, mais práticos, declaram que a “Paz é um sítio calmo e sossegado e muito bom para estar quando se está cansado”. No fundo, todos eles dizem a mesma coisa de várias maneiras: a paz só é possível quando não há guerra!

Num momento em que todos assistimos aos descalabros da guerra vale a pena pensar no horror de tudo o que lemos, vemos e ouvimos e investir activamente na teoria de uma destas crianças. Aquela que diz que “a Paz mora em todos nós”.

Laurinda Alves
Xis ideias para pensar
Oficina do Livro

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Jovem... parabéns e tal... cá estamos...



e sai mais uns shots de drambuie o/

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Hoje junto-me ao rebanho, e seguindo a tendência lógica da blogosfera vou dissertar sobre as eleições. Não que considere muito legitimo da minha parte, pois recuso-me, voluntária e conscientemente, a exercer do meu direito/dever constitucionalmente defenido de votar. Muitos podem considerar a minha postura como uma forma de anticidadania: talvez, mas em verdade olho com muito cepticismo para as supostas divisões entre grupos politicos, não me sinto verdadeiramente representado por nenhum, e não gosto de me ver como instrumento manipulado por argumentações, retóricas ou demagogias nulas de concretização eficaz.

Fiquei contente com a eleição do próximo presidente. Considero que Cavaco, ao lado de Jerónimo, é um dos poucos políticos de caracter genuíno, ou seja, de quem realmente se sabe o que pensa e o que quer, não estando mascarado por ideologias ou interesses partidários imediatos. Não vejo grande vantagem de portugal ter um presidente, mas já que a isso somos obrigados, então que este goste de pastelinhos de belém.

Os restantes (alegre, soares, louçã) não passam de burgueses mimados que, abrigados com uma capa de esquerda, manipulam ideiais de bem estar social para o seu próprio interesse e curriculum.

Do outro nem vou escrever...

sábado, janeiro 21, 2006

O mistério da morte é, para o homem, um enorme abismo negro, assustador e desconhecido. A compreensão de um momento terminal absoluto surpassa em absoluto o entendimento, tanto que este é metaforizado na forma de uma membrana selectiva entre planos de existência, em oposição a um muro de espessura infinita.

Exitem muitos têm medo da partida, outros coexistem que já partiram, pois desapegaram-se, pela resignação ou pelo sofrimento, da raiz da árvore da vida. São ramos que ainda se encontram agregados a outros ramos, mas como subsistem longe do tronco forte e saudável, não são alimentados pela seiva rica que torna a árvore bela e frondosa.

Dormentes, alienados, perdidos no labirinto de realidades que os aprisionam, vagueiam solitários. As mãos não se estendem devido à ignorância, alimentada pelo medo, ou simplesmente pelo desprezo. Existem vozes que gritam semiverdades, filhas do cinísmo, outras nascidas do rancor, ainda outra fagulhas perdidas de uma inocência envaidecida pela virtude. Poucas conseguem transpor a muralha do esturpor voluntário, e menos ainda alcançam uma consciência receptiva.

Por ambos os mundos vagueio. No meio dos esquecido viajo, errante, sonhos alucinandos no meio da multidão; pelo corpo dos despertos grito, de mão aberta, estendida, tocando o ar, virado para o infinito. Sou um, em todos; sou filho de todos, um mais, pouco mais que ninguém; um universo encarnado que abraça mil realidades, uma realidade de mim que se concretiza na sabedoria, uma sabedoria insondável que se reprime: um buraco negro de emoção.





prozac attack,
feeling whacked,
my damned boss won't gimme no slack,
disconnected phone,
didn't get that loan,
seems like everything's going wrong:
unemployed,
flat broke, outta luck, ain't got no hope.
When it seems like it ain't no way call up
the doc
he'll be with you right away!

you think your life is tough...
[call Kevorkian]
you think your life is tough...
[call Kevorkian]
you think you're out of luck
when you're had enough...

need some xanax,
want some pills, 'cause I don't like the
way I feel:
can't sleep at night;
can't get no rest;
I want the grim reaper as my guest!
missed my bus,
missed my plane.
life seems like a constant pain.
think it's bad,
could be worse,
call the doc up
he'll pick you up in a hearse.
Dr. K, by Body Count

sexta-feira, janeiro 20, 2006

A minha exposição favorita voltou à capital. A BTL vai estar, este fim de semana, novamente na FIL. Adoro visitar os expositores por várias razões.

A primeira é a sensação de viagem: fechado naqueles quatro barracões sinto que viajo por portugal, e parte do mundo. Obviamente que não tem a mesma profundidade cultural e satisfação que se obtem ao conhecer novos locais, mas tendo em conta os factores limitantes... Não se pode exigir muito de uma viagem que custa 2 euros, e que dura pouco mais de três horas.

Mas mais que isso, é o sabor da intemporalidade que me atrai todos os anos. A minha primeira vez foi, de certeza, em 98. Nessa altura a fil ainda estava localizada perto da 25 de Abril. Fiquei deslumbrado com a imensidão de cores, lugares, rebuçados e expositores. Voltei no ano seguinte, e comi uma Nata grande, grande, e enchemos os bolsos de lapiseiras e penduricalhos azuis, que nos iriam proteger durante muitos anos contra o mau olhado.

terça-feira, janeiro 17, 2006

No cume daquela serra
Eu plantei uma roseira
O mato no cume cresce
A roseira no cume cheira

Quando cai a chuva fria
Salpicos do cume caem
Salpicos no cume entram
Abelhas do cume saem

Quando cai a chuva grossa
A água do cume desce
O orvalho do cume brilha
A floresta do cume cresce

E depois que a chuva cessa
Ao cume volta alegria
Pois volta a brilhar depressa
O sol que no cume ardia

E à hora crepuscular
Tudo no cume escurece
Pirilampos do cume saem
Tudo no cume arrefece


será de Bocage??
O_o???

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Adoro ver a dança da chuva, da leveza do ar após a sua passagem, da frescura da terra pelo seu contacto. Do verde que renasce, da vida que ressurge, e do sol que reaquece a terra...

sexta-feira, janeiro 13, 2006

sinto-me com uma sensibilidade diferente... algo estranho, e de certa forma incómodo...

ontem andava no meio das minhas leituras, e uma passagem do livro captou a minha atenção de tal forma que a re-li duas vezes...


Robert Jordan estava deitado no seu saco de campanha, no chão da floresta. Estava abrigado pelos rochedos, perto da entrada da gruta. Estava abrigado pelos rochedos, perto da entrada da gruta. Dormindo voltou-se e, ao fazê-lo, deitou-se sobre a pistola que trazia presa ao pulso por uma correia. Tinha colocado a arma perto dele, sobre a cobertura, quando se tinha deitado para dormir, com os ombros, o tronco e as pernas tão pesadas e os músculos tão tensos que a terra lhe parecia mole. Antes de se enrolar no saco forrado de flanela, tinha experimentado uma espécie de voluptusiodade filha da fadiga. Teve, ao acordar, a impressão de ter dormido pouco tempo; perguntou-se onde estava, compreendeu, depois retirou a pistola e dispôs-se com prazer a mergulhar no sono, a mão sobre o rolo formado pelas suas roupas enroladas em volta das alparcatas, o outro braço também agarrado ao travesseiro improvisado.

Foi quando sentiu uma pressão sobre o ombro, que o fez voltar-se vivamente, já com a mão no cabo da pistola.

– Oh, és tu! – exclamou largando a arma. E estendendo os braços atraiu-a para si. Sentiu-a estremecer.

– Entra neste ninho – murmurou carinhoso. - Aí fora está muito frio.

– Não, Não posso.

– Entra. Discutiremos depois.

Ela tremia, presa pelo pulso, e ele puxava-a. Ela voltou a cabeça.

– Entra coelhinha – e, fazendo-a baixar, beijo-a na nuca.

– Tenho medo.

– Não há que ter medo. Entra.

– Como?

– Mete-te neste saco. Há lugar para dois. Queres que te ajude?

– Não – respondeu Maria. Meteu-se dentro do saco, ele abraçou-a, apertou-a contra o seu corpo e procurou beijá-la nos lábios; ela meteu a cabeça no rolo da roupa que servia de travesseiro, mas tinha os braços passados em redor dos seu pescoço e tinha-o apertado. Depois sentiu os braços afrouxarem-se e ela estremeceu.

– Não – disse ele rindo. – Não tenhas medo. É a pistola.

E afastou a arma que se interpusera entre os dois.

– Tenho vergonha – disse ela virando o rosto.

– Não. Não há motivo, aqui, agora.

– Não posso. Estou com vergonha e com medo.

– Não coelhinha. Vamos.

– Não. Se tu não me amas...

– Amo-te.

– Eu sim, estou cheia de amor. Põe a tua mão na minha cabeça – disse ela, sempre com o rosto metido no travesseiro. Jordan passou-lhe a mão sobre a cabeça e acariciou-a. De súbito o rosto de Maria deixou o travesseiro. Encontravam-se apertados um contra o outro, rosto contra rosto. Ela chorava.

Jordan manteve-a imóvel, sentido o contacto daquele corpo esguio apertado contra o seu. Acariciou-lhe a cabeça e beijou o sal húmido dos seus olhos e enquanto ela choravasentiu os seios redondos e de bicos firmes tocarem-no através da camisa que ela trazia vestida.

– Não posso beijar, não sei – murmurou Maria.

– Não é preciso beijar.

– Sim. Preciso de beijar. Preciso de fazer tudo.

– Não é preciso fazer nada. Estamos muito bem assim, mas tu trazes muita roupa.

– Que devo fazer?

– Vou-te ajudar.

– Achas que assim está melhor?

– Claro, muito melhor. Não é melhor para ti também?

– Sim. Muito mais. E irei contigo, como disse a Pilar?

– Sim.

– Mas não quero ficar em nenhum lar . Quero andar contigo.

– Vais ficar num lar.

– Não, não. Contigo e serei tua mulher.

Estavam ambos deitados, e tudo o que antes estava oculto, desvendou-se. Em vez da aspereza das roupas, a doce pressão firme e redonda, a longa frescura calorosa, fresca na superfície e quente no interior, juntas; solitária doçura que tudo invadia, criando felicidade, jovem, amorosa e que se torna a seguir uma doçura que queimava e uma solidão devorante, dolorosa, tão pungente que Robert Jordan não pode mais e perguntou:

– Já amaste alguém?

– Nunca.

E subitamente ficou como morta nos seus braços para acrescentar que lhe tinham feito coisas.

– Quem?

– Vários – e quedou-se imóvel, afastando o rosto dele. – Agora vais deixar de amar-me.

– Amo-te, sim, Maria – disse o rapaz, mas qualquer coisa tinha mudado nele e ela percebeu-o.

– Não! – murmurou Maria em tom dorido. –Não me amarás nunca, mas talvez queiras levar-me para um lar. Eu irei e nunca serei a tua mulher, nem nada...

– Amo-te, sim, Maria.

– Não, não é verdade. – E depois, como um último apelo de esperança: – mas eu nunca beijei nenhum homem.

– Beija-me então agora.

– Eu bem queria. Mas não sei. Quando me fizeram coisas, lutei até perder os sentidos. Lutei até... até... até que um deles se sentou em cima da minha cabeça... e eu mordi-o... e então amordaçaram-me e prenderam-me os braços atrás da cabeça... e outros abusaram de mim.

– Eu amo-te, Maria – repetiu Jordan – e ninguém te nada, ninguém te atingiu, ninguém tocou a minha coelhinha.

– Falas a sério?

– Como nunca.

– E podes amar-me ainda? – sussurrou Maria aconchegando-se a ele.

– E mais ainda.

– Vou tentar beijar-te muito bem.

– Beija-me então.

– Não sei.

– Beija-me simplesmente.

Ela beijou-o na face.

– Não.

– O que se faz ao nariz? Sempre me perguntei o que se faria ao nariz?

– Olha, vira um pouco a cabeça. – E as suas bocas juntaram-se. Ela estava unida a ele e a boca entreabriu-se pouco a pouco. E, de súbito, tendo a rapariga apertada contra ele, sentiu-se mais feliz que nunca, com uma felicidade interior ligeira, amorosa, exaltada e sem pensamentos, e sem fadigas sem cuidados, tudo delícias e ele murmurou: – minha coelhinha. Minha querida. Minha doce amada.

– Que dizes tu? – perguntou-lhe ela, como se estivesse muito longe.

– Minha amada – murmurou ele.

Estavam deitados, estreitamente apertados, sentido os corações bater, e com a ponta dos pés ele acariciou-lhe os pés.

– Tu vieste descalças.

– Sim.

– Então sabias que ias deitar-te comigo.

– Sim.

– E não tinhas medo?

– Sim. Muito. Mas mais medo tinha de não saber como tirar as alparcatas.

– E que horas são agora? lo sabes?

– Não. Tu não tens relógio?

– Sim, mas está atrás de ti.

– Puxa o braço.

– Não.

– Então espreita por cima do meu ombro.

Era uma hora. O quadrante luminoso brilhava na sombra do saco de campanha.

– A tua barba está a arranhar-me o ombro.

– Desculpa, mas não tenho nada com que fazer a barba.

– Gosto disso. A tua barba é loura?

– É.

– E vais deixá-la crescer?

– Crescerá até eu resolver o caso da ponte. Maria, ouve. Tu...

– O quê?

– Tu queres?

– Sim. Quero tudo. É a maneira de fazer desaparecer os outros da minha lembrança.

– Já pensaste niso?

– Não. Só agora o sei, apesar de ela já me ter falado nisso.

– É muito sabida, aquela Pilar!

– Outra coisa – sussurrou Maria baixinho. – Ela disse-me par ate dizer que não estou doente. Ela sabe todas essas coisas.

– Também te mandou dizer isso?

– Nós conversámos e eu confessei o meu amor. Amei-te desde o momento em que te vi entrar. Amei-te mesmo antes de te ter visto. Contei tudo à Pilar e ela mandou-me dizer-te o que te disse. Sobre a outra coisa nós já tinhamos falado antes.

– E que disse ela?

– Disse que nada atinge a gente, quando a gente não aceita. E que se eu um dia amasse alguém, o amor faria desaparecer tudo. Ah, eu até me quis matar, sabes?

– O que a Pilar te disse é pura verdade.

– E agora sinto-me feliz por não ter morrido! Estou tão contente por não ter morrido! Então podes amar-me?

– Sim. Eu amo-te Maria.

– E posso ser a tua mulher?

– Com a vida que levo não posso ter mulher. Mas tu agora és a minha mulher.

– Se sou uma vez, então sê-lo-ei para sempre. Sou a tua mulher agora?

– Sim, Maria. Sim, minha adorada coelhinha.

Jordan enlaçou-a e procurou-lhe os lábios e os corpos colaram-se, macios, frescos, jovens.

– E agora andemos depressa. O que tem de ser feito, seja feito já.

– Queres mesmo?

– Sim – afirmou Maria, em tom enérgico. – Sim, sim, sim.



bem... a atenção que prestei a este capitulo do livro recordou-me de um pequeno episódio, e de uma pequena conversa que se deu à pouco mais de um mês.

estava com um amigo de longa data, e subiamos a rua da Prata no seu carro. Sentia-me deslumbrado com a beleza das luzes natalícias. Os jogos de cores, a diversidade de padrões dispersos pelas várias ruas, o deslumbramento da noite, o amor pela baixa lisboeta fluiram e comentei: "isto é está tão lindo..."

o meu colega ficou boquiaberto... "meu... tu não eras assim" comentou quase escandalizado. "se fosse há uns tempos atrás tinhas comentado: que desperdicio de dinheiro, ou uma merda do género. o que se passa contigo?"

concordei. de alguma forma estou transformado, e mais sensível à beleza subtil que se encontra na maravilhas do mundo. a minha atenção a certas partes do texto prova isso...

e novamente o texto me prendeu...


Maria andava boa agora. Ou parecia. Mas ele não era psiquiatra. O psiquiatra era Pilar. Sm dúvida que o terem dormido na noite passada juntos tinha feito bem aos dois. Para ele fora um bem. Sentia-se muito bem. São, bom, repousado e feliz. A situação apresentava-se terrível, mas tudo ía correr pelo melhor. Já tinha estado metido noutros sarilhos que também tinham começado mal. Começar... Ia pensando em espanhol. Maria era encantadora.

Olha para ela, disse-se. Contempla-a.

E vi-a caminhar alegremente ao sol, com a camisa de caqui desabotoada no pescoço. Caminha como um potro, pensou Jordan. Nunca encontrei ninguém assim. Essas coisas não acontecem na realidade. Mas talvez esteja a sonhar ou talvez me deixe arrastar pela imaginação, pensava ele, e nada tenha acontecido. Lembrava-se de se ter encontrado, em sonhos, na cama, acompanhado de actrizes de cinema que lhe prodigalizavam carícias. Tinha-as possuído a todas e lembrava-se ainda de Garbo e de Harlow. Sim, Harlow tive-a muitas vezes. Talvez ainda sonhasse.

Jordan ainda se lembrava da noite em que Greta Garbo veio para a sua cama, na noite que antecedera o ataque de Pozoblanco; trazia uma macia camisola tecida com uma lã doce e sedosa. Quando ele a abraçava e ela se inclinava sentia os cabelos acariciarem-lhe o rosto. E ela perguntou-lhe porque não confessara que a amava, a ela que o amava há tanto tempo. E ela não parecia nem tímida, nem distante, nem reservada. Era a Garbo dos diasde John Gilbert, boa e meiga e era estranho tê-la abraçada contra ele. Era tão verdadeiro como se tivesse acontecido, e amou-a mais que à Harloe embora fosse uma vez só enquanto a Harlow... e talvez o presente não passasse também de um sonho.

Mas talvez não seja, repetiu-se. Talvez Maria seja realidade e possa estender a mão e tocá-la. Ousarias fazê-lo? Perguntou-se. Talvez te desses conta de que nunca aconteceu nada e de que tudo é produto da tua imaginação, como os teus sonhos onde as actrizes de cinema, amigas velhas, vinham deitar-se no teu saco de campanha, por terra, na palha das eiras, nos estábulos, nos corrales e cortijos, nos bosques, nas garagens, nos camiões e em todas as montanhas de Espanha. Vinham todas meter-se no saco de campanha, durante o seu sono e todas eram mais gentis do que poderiam ser na realidade. Talvez tenhas medo de tocar em Maria e verificar que é realidade, repetia-se ele. Mas sim, tu tens medo: sonho, imaginação, irrealidade.

Jordan adiantou-se e pousou a mão no braço da rapariga. sentiu sob os ded0s a macieza da carne debaixo do pano da blusa. Maria encarou-o e sorriu.

– Olá! Maria! – saudou ele.

– Olá, Inglês – respondeu a rapariga, e Jordan absorveu a rapariga, aquele rosto de um moreno tostado e o cinzento amarelado dos seus olhos, os lábios cheios que sorriam e os cabelos curtos queimados pelo sol. Ela levantou a cabeça e sorriu-lhe. Tudo era uma doce realidade.



uma coisa me deixa minimamente descansado. a conotação sexual que encontro nos textos permite-me assegurar que não mudei tanto assim, e que ainda consigo dar importância a certas banalidades...


Então surgiu o odor da erva esmagada. Maria sentiu a aspereza dos talos dobrados sob a cabeça e o sol brilhando sobre os seus olhos fechados. E ele levaria toda a vida a recordar-se de Maria com a garganta tombada entre as raízes das urzes, a curva da garganta e os lábios que fremiam ligeiramente e o palpitar dos cílios sobre os olhos fechados contra o sol, contra tudo. Para ela só havia vermelho, laranja, o ouro vermelho do sol sobre os seus olhos fechados, e tudo era da mesma cor, tudo brilhava no mesmo tom. Para ele foi um caminho sombrio que não levava a nada, sempre a nada, ainda e sempre a nada, e outra vez a nada, sem fim, sem nunca a nada. Apoiado sobre os cotovelos para nada, caminho sombrio e sem fim, suspenso todo o tempo sobre um nada sem solução, esta vez e outra vez ainda, sempre para nada, entretanto, ah! não poder renascer outra vez para nada e entretanto, para além de tudo o que se pode suportar, mais alto, mais alto, mais alto e para nada. De súbito, deslumbramento, beatitude, tudo o que era sombrio e negativo desapareceu, o tempo absolutamente imóvel; estavam os dois juntos, o tempo suspenso e sentia a terra estremecer e esvair-se sob os seus corpos.



...livros?? nada que uma boa noitada não cure.

falando mais a sério: recomendo vivamente a leitura da obra de onde retirei os textos... ofereço um bombom para quem descobrir qual é... e uns pequenos momentos de felicidade para quem a ler na integra.

terça-feira, janeiro 10, 2006

For Whom The Bell Tolls

Perchance he for whom this bell tolls may be so ill, as that he knows not it tolls for him; and perchance I may think myself so much better than I am, as that they who are about me, and see my state, may have caused it to toll for me, and I know not that.

The church is Catholic, universal, so are all her actions; all that she does belongs to all. When she baptizes a child, that action concerns me; for that child is thereby connected to that body which is my head too, and ingrafted into that body whereof I am a member.And when she buries a man, that action concerns me: all mankind is of one author, and is one volume; when one man dies, one chapter is not torn out of the book, but translated into a better language; and every chapter must be so translated; God employs several translators; some pieces are translated by age, some by sickness,some by war, some by justice; but God's hand is in every translation, and his hand shall bind up all our scattered leaves again for that library where every book shall lie open to one another. As therefore the bell that rings to a sermon calls not upon the preacher only, but upon the congregation to come, so this bell calls us all; but how much more me, who am brought so near the door by this sickness.

There was a contention as far as a suit (in which both piety and dignity, religion and estimation, were mingled), which of the religious orders should ring to prayers first in the morning; and it was determined, that they should ring first that rose earliest. If we understand aright the dignity of this bell that tolls for our evening prayer, we would be glad to make it ours by rising early, in that application, that it might be ours as well as his, whose indeed it is. The bell doth toll for him that thinks it doth; and though it intermit again, yet from that minute that this occasion wrought upon him, he is united to God.

Who casts not up his eye to the sun when it rises? but who takes off his eye from a comet when that breaks out? Who bends not his ear to any bell which upon any occasion rings? but who can remove it from that bell which is passing a piece of himself out of this world? No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were: any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee. Neither can we call this a begging of misery, or a borrowing of misery, as though we were not miserable enough of ourselves, but must fetch in more from the next house, in taking upon us the misery of our neighbours.

Truly it were an excusable covetousness if we did, for affliction is a treasure, and scarce any man hath enough of it. No man hath affliction enough that is not matured and ripened by it, and made fit for God by that affliction. If a man carry treasure in bullion, or in a wedge of gold, and have none coined into current money, his treasure will not defray him as he travels. Tribulation is treasure in the nature of it, but it is not current money in the use of it, except we get nearer and nearer our home, heaven, by it. Another man may be sick too, and sick to death, and this affliction may lie in his bowels, as gold in a mine, and be of no use to him; but this bell, that tells me of his affliction, digs out and applies that gold to me: if by this consideration of another's danger I take mine own into contemplation, and so secure myself, by making my recourse to my God, who is our only security.


John Donne

segunda-feira, janeiro 09, 2006

...há tanto tempo que estou para redigir este texto, que quase receio ter esquecido grande parte da argumentação inicial.

Quero falar sobre pequenos milagres, mas possivelmente é tempo perdido. Tempo perdido porque pois existe o cepticismo de aceitar um milagre como tal quando ele é pequeno, pois milagres são ocorrências maravilhosas e sobrenaturais, que transcedem a nossa compreensão... Tempo perdido porque um milagre pequeno é por natureza muito efémero, o que o torna essa aceitação quase compatível com uma postura social consumista, onde a satisfação dos prazeres e das necessidades imediatas se sobrepõem à construção continua de uma felicidade com alicerçada em valores pessoais e concessões comunitárias... Tempo perdido porque isto é um blog, um espaço virtual, uma zona morta onde se acumulam ideias vagas e pensamentos dispersos, um desperdicio de vida que poderia ser utilizada para saborear a vida com aqueles a quem se quer bem...