quinta-feira, abril 20, 2006

Quando finalmente chegou, sentiu que tinha chegado atrasado. Não que tivessem combinado uma hora exacta para o encontro, mas ao vê-la sozinha sentada naquele banco de jardim singular teve a sensação que deveria ter chegado bastante mais cedo. Aproximou-se e observou-a. Ela manteve-se absorta, com os olhos fixos no horizonte, os braços esticados segurando o banco, as pernas suspensas no eter que se prolongava do banco até ao chão balançando alternadamente. "Carolina!" sussurou, para de novo se resguardar no silêncio, indeciso sobre o que seria adequado, ou não, dizer.

"Senta-te.", respondeu-lhe ela, "Espero-te aqui todas as tardes, sempre neste banco, sempre à mesma hora, sempre aguardando a tua companhia, sempre com os olhos no arco-celeste, sempre esperando que ele se desdobre em dois, mesmo sabendo que somente contigo ao meu lado tal será possivel." Olhou para Márcio, que se mantinha estático e hirto, transformado em mais uma estátua naquele jardim. "Senta-te aqui, ao meu lado, pois isto de observar o arco-iris tem os seus preceitos. Além disso, daqui a pouco o arco-iris terá que ir embora, rumar até outro banco, iluminar outro jardim, e encantar outra assistência. Há muita gente que o espera ansiosamente, por isso a sua permanência em cada jardim é breve, e daqui a nada já não o conseguiremos ver." Márcio coçou a nuca, apreensivo. Sentia uma angústia genuína no apelo de Carolina, mas por muito que esticasse o olhar não vislumbrava arco-iris algum, e por isso estranhava que o desaparecimento de algo que não se vê causasse tamanha preocupação. "Senta-te, por favor, Márcio. Não sei se ele fica muito mais tempo, por isso senta-te rápido, antes que ele resolva ir embora." Ele questionava-se: "Que raios! Terá a rapariga finalmente enlouquecido, ou estará ela a gozar comigo?" O sol estava forte, e no céu azul e limpido nenhuma nuvem para existia para bloquear o brilho do rei celeste, e muito menos para difractar a sua luz pela abóboda celeste. "Ohh, despacha-te, despacha-te!" gritou ela, quando voltou a encarar o infinito, "Senta-te depressa... Aiii... Bastou ter desviar o olhar, e por pouco ele não desaparecia..." Agora sim, Márcio estava assustado. O semblante de Carolina carregava-se de aflicção, e a sua mão chamava-o incessante. O rapaz decidiu não perder tempo, e caso a sua amiga estivesse louca, também ele iria beber à fonte da loucura.

Sentado no banco, também ele balançava as pernas alternadamente, ligeiramente desfazado do ritmo de Carolina. Olhou para ela, e verificou que a expressão de tormento tinha dado lugar a um sorriso de verdadeira felicidade. "Olha, olha, ele está a voltar."–dizia ela, apontando para o céu– "Ai, tão bonito que ele está hoje! Olha, vê, Márcio, vê!". Ele queria ficar a observar a doçura da face de Carolina, mas, sendo incapaz de contrariar qualquer pedido daquela mulher encantadora, acedeu. Para seu espanto, a paisagem de carros e autocarros, prédios e estradas e todos os que se passeavam no jardim haviam desaparecido. Somente ele, o banco e Carolina se mantinham constantes naquela paisagem. À sua frente, soberbo, enorme e magnífico, o Arco-Irís exibia-se numa enorme tela de nuvens cinzentas.

2 comentários:

lucie disse...

faz lembrar o principezinho:
Espero-te aqui todas as tardes, sempre neste banco, sempre à mesma hora, sempre aguardando a tua companhia, sempre com os olhos no arco-celeste, sempre esperando que ele se desdobre em dois, mesmo sabendo que somente contigo ao meu lado tal será possivel."


se vieres as 4 as tres ja começo a preparar o meu coraçao!

p1ngger disse...

:blush: também pensei nisso... mas voltando ao texto... até saiu bem :X