quinta-feira, abril 06, 2006

Fecho os olhos e sinto o relâmpago que procede o trovão, anunciando a tempestade. O ar em redor torna-se mais fluido. mais frio e mais húmido. As ervas que rodeiam o caminho de terra batida, de flores amarelas e violeta, curvam-se ao vento que cresce, dançam com o seu canto, e preparam as suas roupagens, tornando-as mais verdes e mais vivas, para que cheias de vida possam receber as sementes de vida que irão jorrar dos céus. O vento, fiel arauto da tormenta, canta melodias antigas, fazendo árvores, folhas, ervas, animais se dobrarem à sua passagem. Todos prestam homenagem à Rainha que reclama a sua soberania. Eu também.

Abro os olhos, e vejo o vento que segurando as folhas caídas, as eleva do chão, e lhes permite observarem novamente o mundo do alto. As primeiras gotas atingem a minha capa verde, tão verde como as ervas que cobrem o chão. A Rainha chegará plena e exuberante de poder, e cheia de raiva e fúria para com os imprudentes que não se acautelam devidamente à sua passagem. Outro relâmpago fende os céus, e espalha-se pela terra num estuário de energia. Tão perto que, por sentir um arrepio percorrer as crinas brancas do Trindade, desfaço o feitiço que me prende àquela paisagem. Olho o caminho de terra batida que corta o verde, amarelo e violeta daqueles campos, mergulha num punhado de árvores, e ressurge já perto da entrada do castelo. O grito rouco e longo do trovão atinge-me as costas, e Trindade responde-lhe com um relincho e o seu galope.

Os seus cascos ganham ritmo, e marcam o tempo da canção que o vento canta. Cada vez mais rápido, cada vez mais alto, cada vez mais forte, até se provarem mais fortes, mais altivos, e mais rápidos que o próprio vento. A Rainha estará certamente feliz, pois mais um arauto corre veloz pelo campo verde, anunciando a sua chegada.

"Acautelem-se os incautos! As aves fracos que se recolham aos seus ninhos, os animais às suas tocas, os fracos aos seus refúgios. A Rainha voltou, e faz-se senhora das suas terras."

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