sexta-feira, junho 30, 2006

O autocarro percorria a distância que me separa de casa com a prevista e sempre habitual morosidade. Três horas enfiado numa lata compartilhada sem óleo para me divertir, o transporte colectivo transpõe os 120 kilómetros numa trajectória que me rebenta as que soturas da paciência com tantas voltas, revoltas, torneios, rodeios e desvios. A paisagem vermelha e cinzenta cede ao verde vivo dos pinheiros mansos que se abraçam numa floresta cersida pelas actividades humanas, seguidamente ao amarelo torrado dos pastos secos que se estende por lonjuras e lonjuras até embater num só pinheiro manso isolado rei de uma pequena colina, depois aos vales claustrofóbicos e insinuados em que, além da estrada sinuosa e recurvada, apenas arbustos, medronheiros e azinheiras se afirmam. Demasiado tempo para tal distância. Os joelhos cedem à dor e ao desconforto, os olhos ao cansaço, o corpo todo geme pela fuga da prisão. O tempo cinde-se, metamorfoseando o presente numa bifurcação de passado e futuro que se entrecruzam na trança enlaçada pelo destino.

Sem comentários: