sexta-feira, junho 26, 2009

Os dias solarengos de Junho, quando não exageradamente quentes, são prazenteiros e ideais para vaguearmos pelas ruas e praças no coração da baixa, beber umas ginjinhas nos tascos centenários onde o chão se cola às solas das sandálias e cuja clientela eclética tem sempre estórias dignas de serem apreciadas, ver os artistas, extorquistas, prostitutas, exibicionistas, vendilhões e aldrabões que inundam a Rua Augusta com ofertas e assédios, nos guiarmos pelas textura de odores a batata frita, pastelaria fresca, caracóis com oregãos, sardinhas na brasa, bifanas com vinho tinto da pipa. Num desses dias as deambulações levaram-me até à miscelânea de culturas que se encontram pela praça do Martim Moniz. Ciganos, asiáticos, africanos, indianos e causasianos cruzam-se nas ruas, alguns acelerados pela pressa citadina, outros pasmaceiramente vendendo ou comprando vícios apregoando a mercadoria com a cumplicidade no olhar.

Meti a mão no bolso para contar os trocos e bastou chocalhar um pouco para certificar que tinha suficiente beber umas cervejas sem preocupações. Caminhei pela praça, ignorando as ofertas e assédios, e sentei-me no fava rica, onde me refresquei com uma imperial debaixo do olhar sempre vigilante do Castelo de São Jorge. "Mao, Mao", ouvi, pouco antes de pousar o copo pela segunda vez na mesa de alumínio, "Mao, amigo", ecoou mais alto e perto a voz de sotaque asiático, enquanto uma palmada seca nos espaldares fez-me estremecer e por pouco não entornei o sumo de cevada sobre a mesa. "Tao", gritei alegremente quando me virei e vi duas caras de meia idade, sorrisos abertos e olhos rasgados irradiando alegria. Levantei-me a apertei Tao num abraço, e cumprimentei a esposa com dois beijos. Conhecia-os há vários anos, pois haviam sido donos de um restaurante na rua dos Douradores onde me tornei cliente regular mesmo antes de, por uma daquelas ironias que o destino tem, me tornar colega do seu filho na universidade.

Sentarem-se e pediram uma água com gás -sabor de groselha para a senhora, de limão para Tao- e ficamos a repenicar nas memórias.

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