sexta-feira, junho 12, 2009

Num consultório sem pacientes esperava sentado, solitário, a atenção da técnica de serviço. Estava a responder à convocatória para a doação de medula, e era necessário fazer os testes de sangue preliminares. O tempo pouco tempo que ali estive sentado, aguardando uma oportunidade para ser um contributor activo nesta sociedade, fez-me pensar e ponderar os dinheiros, mecanismo e recursos que obscuramente se movimentam, e que parasitam o altruísmo dos indivíduos. Eu, o que está pronto a oferecer gratuitamente parte da minha vida para outra vida prolongar espero e aguardo recatadamente numa cadeira, o paciente de certeza que vive ansiedades esperando que uma boa nova chegue mais cedo do que tarde, e aqueles que deste mundo onde tecidos, carne, sangue, pele, pelos se trocam como selos tiram rendimento passeiam-se pachorrentamente, ignorando as nossas urgências.

Na recepção, onde a declaração de insenção de responsabilidade da empresa tem de ser assinada pelo dador, estão dissecações empilhadas em dossiers amarelos, onde todos registos de peças de corpos retalhos podem ser consultados, mexidos, manipulados e novamente arquivados, para uma futura necessidade.

Sem comentários: