quarta-feira, dezembro 09, 2009

Copenhaga, Copenhagen, Cóbanhávan, Kaupmannahöfn, Kopenhagen, Kopenhaga, Копенгаген, کپنهاگ, קאָפּענהאַגען, 哥本哈根, 코펜하겐, โคเปนเฮเกน, ケーベンハウン, København, Hopenhagen!

Qual um velho fumador apodrecido com cancro sorvendo ar de um pulmão artificial, burgueses espalhados pelo mundo aguardam esperançosos o veredicto do concílio económico/diplomático que presentemente se desenrola nas frias terras dinamarquesas. Como velhas histéricas e puritanas vozes exigem reclamam apontam contradizem citam desmentem medeiam argumentam explicam demonstram propõem falam, falam muito. Como adolescentes expectantes e crédulos os ouvidos sorvem acreditam rezam vigiam especulam esperançam-se.

Estou-me a cagar, realmente a cagar para o empenho dos negociadores, os seus objectivos, os seus resultados. Estou-me a cagar, pois a solução está além das capacidades oratórias de meia dúzia procuradores encartados pelos interesses económicos de elites transnacionais. Estou-me a cagar porque a forma como as massas reagem é ela consequência do mesmo padrão comportamental que condenou o nosso mundo: a ignorância da consequência de alguns comportamentos individuais, o delegar da responsabilidade civilizacional a uma mão cheia de oligarcas, o conforto consumista que aquiesce às barbaridades ambientais e humanitárias. Estou-me a cagar para uma sociedade que aceita passivamente que a morte, fome, violência, desterro seja o dia a dia de milhões de habitantes neste mundo em favor da satisfação de caprichos, lazeres, ócios, mediocridades, petulâncias, manias, modas. Estou-me a cagar para uma classe média culta que despreza a natureza, as suas belezas, não aprecia a beleza na variedade de cores na foração da primavera, não olha o padrão pintarolado no céu nocturno pelas estrelas, que não conta as caracteras da lua quando reflecte a luz solar sobre a terra, não acompanha o padrão do voo das aves ou dos insectos mas olha invejosamente para o rasto do avião que rasga o azul. Estou-me a cagar porque não vale a pena chorar a morte de um amigo que não soubemos prezar, mimar, acompanhar, encorajar, fortalecer, compartilhar, tal como temos demonstrado não sabermos ser amigos da nossa biosfera.

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