sexta-feira, janeiro 16, 2009

O comboio chegou à cidade encrustrada nas montanhas dois minutos antes do que estava previsto no horário. Dentro da carruagem ainda quente colocámos as mochilas às costas, ajeitando as presilhas para melhor equilibrar o peso. A nossa carga sobrava acima da nossa cabeça, mas a tua mochila vermelha mal se notava, pequena, mirrada e ainda assim espaçosa, quase vazia como no teu primeiro dia de escola.

Nós estavamos excessivamente acasados: escondiamo-nos do frio em bunkers caqui de fibra e lã, mas tu vestias uns calções um pouco mais escuros que a tua mochila e uma camisola de alças amarela, que tinhas comprado nas férias do verão anterior. Durante a viagem a roupagem que cada um trazia ou não trazia, usava ou não usava, vestiria ou não vestiria, que iria carregar, que iria usar, que se arrependeria de ter deixado em casa havia sido um assunto recorrente e desgastado. Nessas conversas os espiritos haviam até se haviam exaltado, com dois jantares apostados em meio da confusão.

Ao sair do comboio a frescura da montanha gelou ossos e arrepiou espinhas. Isto não era para ser este gelo!; Já sabias que vinhas para aqui. Sim, mas não disseste que estaria tanto frio, senão tinha vindo um pouco mais preparado! Oh que porra, falamos nisso durante semanas. E isto são montanhas, já sabias que seria bastante mais frescas que a cidade. Frescas sim, gelo não! A tua face torcia-se com o desconforto e o descontentamento. Mas não importa. Assim que começarmos a andar o calor mata o desconforto!

Saimos da estação. A aldeia era pequenissima, e parecia quase abandonada àquela hora. Existiam poucas casas, e nenhuma tinha mais do que dois pisos. Na rua, além do nosso grupo, só outras três almas desafiavam o frio, bastante encasacadas e desconfiados de estrangeiros.

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