terça-feira, fevereiro 27, 2007

Enquanto a noite caía, passo a passo, de mãos dadas, caminhavam para o topo da colina. O grupo em seu redor dissertava acerca de banalidades e questões triviais. Eles não. Mantinham-se calados, abstraídos, dedicados. Não trocavam palavras, nem olhares, nem beijos, somente as mãos e uma suave paixão.

No topo da colina todos se sentaram com as primeiras estrelas sarapintando o céu. Todos esperavam o momento em que a lua seria beijada pela terra, numa penumbra secular. Eles esperavam por um beijo cúmplice do momento favorecido pela noite. A roda estava alegra: via-se a ponte, o rio, um pirilampo que passava de mão em mão. Ele segurou-o entre os dedos, levou-o à boca, inspirou fumo, amor e resina. Ela sentada em lótus, fez das pernas sua almofada, enquanto ternamente lhe acariciava os cabelos. Pausadamente, por três vezes desgostou o cânhamo do cigarro, fazendo pausas entre inspiração, aproveitando para beijar as mãos frias que o afagavam. Elevou o cigarro e ofereceu-o, "queres?", perguntou. "Não assim, não quero fumar! apenas quero o fumo." respondeu-lhe a voz doce. Ele sorriu, ela respondeu ao sorriso cúmplice. Ele levou novamente o cigarro à boca, aspirou o fumo, encheu os pulmões e passou o cigarro a quem estava ao seu lado. Os olhos encontrara-se, ele elevou a cabeça e os lábios simularam um assobio. Ela imitou-o, e aproximou a cabeça. Ele colocando-lhe as suas mãos no pescoço, puxou-a para si, para que lenta e continuamente, uma nuvem de fumo branco ligasse as duas bocas. A distância entre os lábios gradualmente se tornou mais curta, e antes que a corrente de fumo se acabasse, já as duas bocas partilhavam afectos.

Na roda o silencio instalou-se quando a penumbra começou a invadir a lua. No escuro, só as estrelas e os pirilampos brilhavam.

Sem comentários: