terça-feira, setembro 05, 2006

Há muitos anos atrás (mais de dez) um grupo de jovens dinâmicos incentivados possivelmente pelas séries juvenis das época (90210, Parker Lewis e várias produções televisivas e cinematográficas afins) decidiram arriscar na produção de um jormal escolar. Os meios eram escassos, e ter-se um computador em casa com software adequado para a edição de texto era uma raridade e um luxo. No entanto, a simpatia da paróquia de Vila Nova de Santo André e a amável disponibilidade de alguns funcionários do jornal paroquial "O Leme" a condições possibilitou uma composição semi-profissional do pasquim, e assim o PoucaGenteLê conseguiu ser editado.

O corpo redacional era composto maioritariamente por alunos provenientes de uma turma de química da Escola Secundária de Santo André, ESSA (posteriormente rebaptizada de Escola Secundária Padre António Macedo, ESPAM), com os quais eu tinha algumas afinidades, uma vez que estava na mesma área escolar. O jornal foi desenvolvido sempre sem auxilios ou orientações directas de professores, o que lhe conferia um caractér de insenção. O nome da publicação foi inspirado nas iniciais da então infame e recentemente extinta Prova Geral de Acesso (PGA), resultando o titúlo mordaz de Pouca Gente Lê (PGL).O preço da capa (50$=0,25€) correspondia ao custo de impressão de cada exemplar na repografia, e por isso o lucro que obtia da venda dos jornais era nulo. O projecto era interessante e ambicioso, tendo em conta as condicionantes socio-económicas e culturais que circunstanceavam os alunos da escola, mas a equipe do jornal demonstrou dinâmismo e preserverança ao não deixar morrer a iniciativa logo após a distribuição do primeiro exemplar.


Pessoalmente fui incentivado pela possibilidade de experimentar "escrever" para o jornal da escola ingressei nas fileiras dos reporteres como cronista (afinal, não tinha nada concreto para escrever, apenas uma vontade férrea e decidida de expressar as minhas opiniões, fossem elas quais fossem!), alargando depois a minha área de colaboração ao editorial de abertura (devido tanto à minha capacidade rebuscada de escrever sobre tudo e sobre nada, como à necessidade premente de se escrever um em cada jornal).


Ironicamente esta edição, além da crónica e do editorial, tem dois extras: a primeira é a entrevista que já nem recordava (julgo até que fui escolhido pela conveniência de que, sendo um dos colaboradores activos do Jornal, estaria facilmente disponível para responder às perguntas colocadas); a segunda é a secção
"O Pastor Responde", na qual respondia com sarcasmo e ironia às mensagens pessoais (algumas fictícias) dirigidas à secção de "Mensagens", atravês de uma personagem construido que vivia num imaginário semelhante e bastante inspiridor do mundo imaginário onde se move o Ovelha Brava.

Julgo que ao todo foram feitas cinco edições do jornal, iniciando-se no final do ano lectivo de 93/94 com o número zero, e prolongando-se por mais quatro edições durante 93/94. No entanto, com tanta papelada, com tanta mudança de casa em Lisboa, e na minha casa no Alentejo desconheço onde tenho guardados os outros exemplares.

O redescobrimento deste jornal, após anos de esquecimento, fez-me compreender que não mudei tanto durante estes dez anos em que tenho vivido em Lisboa. Essencialmente defendo os mesmos principios de vida, e a eles me mantenho fiel...

1 comentário:

John Akura disse...

Ena, tinha cabeçalhos e tudo, so faltava a pagina de classificados com a pornografia e as gajas descascadas e uma seccao de novos talentos emergente no mundo das banalidas, com a publicicao mensal das historias do tio Akura. :P