O terceiro dia acordou bonito, o céu azul com algumas nuvens prometendo desafios, o sol ora sorrindo ora desaparecendo como uma criança que brinca às escondidas. O caminho abandonou Abadin, runo à Terras Chá, embrenhou-se pelos campos verdejantes da Galiza, onde a calma e os curso de água abundam.
Nesse dia o desafio aumentou pois a chuva resolveu aparecer (possivelmente para abençoar a semana pascal), e, irrelutantemente nos complicou a vida. Mais uma vez comprovamos a dificildade e desprazer de caminhar durante horas a fio encapotatos e atascados nos lamaçais que formam no meio dos caminhos. Nas pausas para o descanso retempera-se as forças com amendoins, ovos cozidos, barritas de cereais, cubitos de marmelada, umas laranjitas e uns tragos de água, para novamente voltar a caminhar.
A meio da tarde chegamos ao albergue de Villalba, que fica localizado algumas centenas de metros antes deste centro urbano. É um edificio recente, modesto, mas acolhedor. À porta já se encontravam alguns peregrinos, que esperavam alguém que abrisse a porta. Após uma meia hora uma alma caridosa apareceu e lá nos permitiu entrar nas instalações, avisando-nos que mais tarde (por volta das cinco) apareceria alguém responsável para registar as nossas presenças e carimbar as credenciais. Aproveitamos para entrar, tomar banho, lavar uma roupinha e descansar o corpo enquanto esperavamos pela carimbagem. Depois fomos dar uma pequena voltinha até à cidade para ver as vistas, fazer umas compritas e jantar. A cidade era pequena, e salvo uma torre de menagem meio transformada em hotel, não tinha nenhum interesse especial. O jantar foi um menu qualquer onde, para não variar, o segundo prato foi umas costoletas de porco. Depois da janta recolhemos albergue, e deixamos a noite passar.
Acordamos, tomamos o pequeno almoço, e preparamo-nos para a chuva, que abundantemente se espalhava pela terra. Todo o dia a chover, 20km bem molhados até chegar a Baamonte... Baamonte é um lugar pequeno, com meia duzia de casas, uma mercearia, um snack bar, um restaurante, estrada nacional que divide a aldeia em duas bandas, e uma magia encantadora.
quarta-feira, maio 02, 2012
segunda-feira, abril 23, 2012
No passado sábado tive o prazer de assistir à segunda vitória do Real Madrid sobre a equipa do Barcelona. O ambiente que me rodeava era de festa (pudera, era um jantar de aniversário), o que, de alguma forma, me lembrava a atmosfera que vivi quando, no ano passado, o Ronaldo também silenciou os adeptos catalães.
Um jogo de futebol, por si só, pouca importância tem, não merece ser arquivado na memória durante tempos sem conta, muito menos recordado a frio num blog, apenas por eu o ter sido assistido. Mas o que se encontra guardado na minha memória é bem mais que aquele jogo.
Começa com umas horas mal dormidas, um telemóvel a tocar pouco depois das duas da manhã. O despertar foi um pouco cedo demais, pois o JM e o seu supercarro só chegaram às três. A viagem fez-se pela noite animada de rock 'n' roll, metal e prodigy, e salvo um desvio não previsto pelo centro de Vigo, a viagem decorreu tranquila, até que uma suave madrugada Galega nos acolheu em Compostela. Matabichamos umas sandochas que tinhamos na mochila, compramos dois bilhetes para Mondoñedo (via Villalba), e lá fomos pela estrada fora, ora apreciando a paisagem galega que se estendia a partir do negro asfalto até ao castanho das montanhas, ora dorminhocando entre algumas curvas e contracurvas.
Mondoñedo é uma vila pequena, demasiado pequena para passar um dia, mas o cansaço da viagem exigiu que descansássemos os músculos naquele pequeno lugar até ao dia seguinte. O albergue, um pequeno e acolhedor edifício (recuperado com fundos comunitários), estava aberto. Entramos, colocamos as nossas mochilas, e fomos deambular pela vila. Vimos uma fonte (la ruta da áuga) e conseguimos visitar a belissima Catedral de Mondoñedo (esta faz pandam com a impressionte catedral de Ferrol, pois ambas são sede episcopal da diocese Mondoñedo-Ferrol), onde os frescos sobreviventes contam a estória de um massacre, ocorrido durante a reconquista, em que estranhamente as vitimas seriam as populações moçárabes, chacinadas pelo gume das armas de cavaleiros ibéricos (certas más línguas asseverarão que na realidade os quadros representam a degolação dos inocentes, mas eu vi e sei do que estou a falar, e são cavaleiros ibéricos a maltratar as pobres populações mouriscas). Estendemos a paciência e boa vontade, subindo e descendo as mesmas ruas, regressando ao albergue onde continuávamos a ser os únicos ocupantes, até que as horas se apresentaram dignas para jantar, e na casa de pasto cada um comeu um menu de Caldo de Pescado, seguido por umas costeletas fritas. Depois foi xixi-cama, e graças a deus que finalmente podemos nos deitar naqueles beliches.
A primeira alvorada foi às oito, e depois de um pequeno almoço, começamos a subir a estrada que se afastava de Mondoñedo. A caminhada foi agradável, salvo a surpresa da subida após Lousada... A surpresa não foi subir, porque até então tinha sido um ascender constante, mas a inclinação da estrada, que se pronunciou repentinamente, como se a própria estrada tivesse por vontade romper o azul do céu, muito acima dos moinhos geradores que plantados nas cumeadas em nosso redor, debaixo do olhar gozão de um sol em plena pujança. Pouco depois da hora de almoço chegamos ao albergue de Gontán, onde encontramos finalmente outros peregrinos. A tarde foi reservada ao descanso, e uma brevissisma visita a Abadin. Esta aldeola pouco mais tinha que dois restaurantes, uma cabine telefónica, e uma estrada que a dividia ao meio. O jantar foi obviamente em Abadin, onde o menú foi uma sopinha de ofideos segundada por umas costeletas fritas, e para compor a refeição, um refrescante tinto da região. Com a noite a descer, regressamos ao Albergue, para o muito merecido descanso.
Um jogo de futebol, por si só, pouca importância tem, não merece ser arquivado na memória durante tempos sem conta, muito menos recordado a frio num blog, apenas por eu o ter sido assistido. Mas o que se encontra guardado na minha memória é bem mais que aquele jogo.
Começa com umas horas mal dormidas, um telemóvel a tocar pouco depois das duas da manhã. O despertar foi um pouco cedo demais, pois o JM e o seu supercarro só chegaram às três. A viagem fez-se pela noite animada de rock 'n' roll, metal e prodigy, e salvo um desvio não previsto pelo centro de Vigo, a viagem decorreu tranquila, até que uma suave madrugada Galega nos acolheu em Compostela. Matabichamos umas sandochas que tinhamos na mochila, compramos dois bilhetes para Mondoñedo (via Villalba), e lá fomos pela estrada fora, ora apreciando a paisagem galega que se estendia a partir do negro asfalto até ao castanho das montanhas, ora dorminhocando entre algumas curvas e contracurvas.
A primeira alvorada foi às oito, e depois de um pequeno almoço, começamos a subir a estrada que se afastava de Mondoñedo. A caminhada foi agradável, salvo a surpresa da subida após Lousada... A surpresa não foi subir, porque até então tinha sido um ascender constante, mas a inclinação da estrada, que se pronunciou repentinamente, como se a própria estrada tivesse por vontade romper o azul do céu, muito acima dos moinhos geradores que plantados nas cumeadas em nosso redor, debaixo do olhar gozão de um sol em plena pujança. Pouco depois da hora de almoço chegamos ao albergue de Gontán, onde encontramos finalmente outros peregrinos. A tarde foi reservada ao descanso, e uma brevissisma visita a Abadin. Esta aldeola pouco mais tinha que dois restaurantes, uma cabine telefónica, e uma estrada que a dividia ao meio. O jantar foi obviamente em Abadin, onde o menú foi uma sopinha de ofideos segundada por umas costeletas fritas, e para compor a refeição, um refrescante tinto da região. Com a noite a descer, regressamos ao Albergue, para o muito merecido descanso.
quinta-feira, março 15, 2012
quarta-feira, março 14, 2012
Explodindo como uma tépida beijoqueira, a primavera insinuou-se, e nós, atiçados por uma cerveja fresquinha saboreada debaixo uma azinheira, perdemos os pudores e queimamos a distância que separa a Capital da Nação Alentejana. As curvas foram poucas, sempre em frente, porque a planície dourada abraçava o descanso do fim de semana, e sem perder muito tempo com as vistas rapidamente encontramos a linha do mar estendendo-se pelo infinito.
sexta-feira, março 09, 2012
A minha bussola gira incerta impelida pela vontade de partir, mas sente-se insegura para onde deve traçar o azimute. A rota poderá seguir para norte, para os diferentes caminhos que a cada o ano que passa assedia as minhas pernas, onde os velhos trilhos beijam os meus pés até à dor e à exaustão, caso a bussola se guie pelo lado direito do meu coração, o lado que ama o verde silêncioso oferecido pela natureza e os sorrisos trocados entre bons dias com outros caminhantes. Mas, se guiada pelo lado esquerdo, onde bate o outro ventrículo, a rosa dos ventos pintar-se-à de vermelho e branco, gritando vida, fogo, paixão, luta, resistência, curiosidade, aprendizagem.
quarta-feira, fevereiro 22, 2012
Olho-te nos olhos. As ondas quebram suavemente ao alcançar a praia, derramando a sua espuma para preencher os grãos de areia, perfumando com maresia a manhã quente. Não nos importa o mar imenso sustentando o céu azul, a confiança do sol que domina o dia, o incessantemente vento gozão e inoportuno, o definhar das algas acima da linha d'água. Guardamos as palavras, apenas as almas se exprimem, puras e sinceras.
quinta-feira, fevereiro 16, 2012
Quando sonho, sonho a cores.
Já sonhei verde e vermelho, e quando sonhava assim, preenchiam-me essas duas cores. Era esperança que conduzia vida, esperança que inspirava calor, esperança inocente mas determinada, vida que crescia, energia que pulsava. Depois azul e branco. Aprendi a ser mais do que eu, ser história e orgulho, nação na nação, embaixador de nós, transpor o contemporâneo e o popular, abraçar a diversidade e a riqueza acumulada por séculos acobertados de azul e branco.
Hoje, pela primeira vez, sonhei branco e vermelho.
segunda-feira, fevereiro 13, 2012
Primeiro: motivação; segundo: arrumação; terceiro: mudança.
Limpar, arrumar, reorganizar o espaço em que vivemos é reorganizar, arrumar, limpar as ideias dispersas e espalhadas pelos confins da nossa mente. Missangas de várias cores devidamente encarreiradas e alinhadas por um fio estruturante apresentam-se como um colar bonito onde cada uma consegue refulgir plenamente, permitindo-nos discernir a beleza esférica singular de cada uma das bolinhas coloridas. Para saborearmos devidamente cada momento da nossa existência necessitamos criar um alinhamento estrutural no plano físico que nos permita estruturar a dispersão que existe nos nossos variados planos abstratos, evitando que a anarquia disfórmica de milharentas ideias se aglutine comprimindo o pensamento, reduzindo-o a um empedrado indestrinçável de sonhos perdidos, frustrações acumuladas, desejos irrealizados, memórias perdidas, sucessos esquecidos.
Limpar, arrumar, reorganizar o espaço em que vivemos é reorganizar, arrumar, limpar as ideias dispersas e espalhadas pelos confins da nossa mente. Missangas de várias cores devidamente encarreiradas e alinhadas por um fio estruturante apresentam-se como um colar bonito onde cada uma consegue refulgir plenamente, permitindo-nos discernir a beleza esférica singular de cada uma das bolinhas coloridas. Para saborearmos devidamente cada momento da nossa existência necessitamos criar um alinhamento estrutural no plano físico que nos permita estruturar a dispersão que existe nos nossos variados planos abstratos, evitando que a anarquia disfórmica de milharentas ideias se aglutine comprimindo o pensamento, reduzindo-o a um empedrado indestrinçável de sonhos perdidos, frustrações acumuladas, desejos irrealizados, memórias perdidas, sucessos esquecidos.
segunda-feira, janeiro 16, 2012
O orvalho saturava a madrugada. A humidade que se desprendia das folhas quando os raios solares lhes tocavam tornava-se imperatriz matinal. Ele respirava fundo, enchendo os pulmões até ao limite, uma vez e outra, enquanto os seus olhos percorriam, uma vez e outra, o caboco redondo escavado no solo lamacento à força de unha, pau, pedra, sangue, osso, músculo, sacrifício em calor de amor, necessidade forçada porque os impulsos fala mais forte quando se vive livre, quando se ama um rapaz transforma-se rapidamente em homem, uma rapariga transforma-se rapidamente em mulher e mais rapidamente ainda em mãe.
O circunferência onde se iriam encaixar as primeiras pedras da casa de dois que já eram, outro que se anunciava, os outros que seriam também, que venham muitos mas venham fortes porque o mundo prova os seus na doença, peste, fome, guerra, amor, é ainda um rombo no chão lamacento por onde espreitam restos de raizes cortadas, vermes, larvas, minhocas que nunca tinham visto tão escaldante luz, habituados à penumbra, mas que sosseguem porque ainda antes de o dia terminar novamente estarão enterrados e escondidos, um vacuo no solo preenchido com mais obrigações do que sonhos. Uma a uma, mais leve ou mais pesada, todas cobertas de musgos e líquenes, durante a pesada manhã tomaram o seu lugar no alicerce que também seria parede, em cada uma depositada toda a atenção para evitar desencaixes,
O circunferência onde se iriam encaixar as primeiras pedras da casa de dois que já eram, outro que se anunciava, os outros que seriam também, que venham muitos mas venham fortes porque o mundo prova os seus na doença, peste, fome, guerra, amor, é ainda um rombo no chão lamacento por onde espreitam restos de raizes cortadas, vermes, larvas, minhocas que nunca tinham visto tão escaldante luz, habituados à penumbra, mas que sosseguem porque ainda antes de o dia terminar novamente estarão enterrados e escondidos, um vacuo no solo preenchido com mais obrigações do que sonhos. Uma a uma, mais leve ou mais pesada, todas cobertas de musgos e líquenes, durante a pesada manhã tomaram o seu lugar no alicerce que também seria parede, em cada uma depositada toda a atenção para evitar desencaixes,
quarta-feira, setembro 28, 2011
"ã: Oldies Goldies (3 de 3): Menos Oldie (só tem uns dois meses) e talvez menos Goldie também, Primeiras Semanas é uma jam sem edição posterior em que foram utilizada..."
Não há surpresa no encontro, há a felicidade do reencontro
Não há a surpresa na arte, há o reconhecimento da sensibilidade artistica
Não há surpresa no encontro, há a felicidade do reencontro
Não há a surpresa na arte, há o reconhecimento da sensibilidade artistica
segunda-feira, setembro 26, 2011
A luz que entra no quarto não te ilumina, aumenta as tuas sombras. Deitada, protegida numa manta vermelha, expiras serenamente os teus torbulentos sonhos azuis sob o vigilar atento de quem não dorme. Entre as paredes escurecidas o eter adensa-se em vida, expessando o destino que corre ante os nossos olhos, os teus protegidos, os meus vigilantes.Sorves o fluxo do mundo com todas as suas cores, coas atentamente as alegrias das mágoas, grão a grão escolhes cada esperança, lençois são a eira onde debulhas os destinos da vida. Dia e noite, tu és dia e noite. Sou sol e lua, luz e sombra, gravito em torno dos teus sonhos longe e distante, distorcendo-te a realidade, arrastando-te para o frio e escuro infinito da incerteza. A luz que entra no quarto não nos aquece, não nos ilumina, apenas mantêm a distância constante entre dois astros azuis.
terça-feira, fevereiro 01, 2011
sábado, fevereiro 27, 2010
Faltam 28 dias de encetarmos a nova peregrinação até compostela. Segundo o roteiro, temos 110 km camiño, dividido por 5 etapas.
Sairemos de Lisboa preferencialmente de carro, farendo uma viagem de aproximadamente 5 horas, e deixaremos estacionado em Compostela.
Sairemos de Lisboa preferencialmente de carro, farendo uma viagem de aproximadamente 5 horas, e deixaremos estacionado em Compostela.
Em Compostela apanhamos o autocarro até ao nosso ponto de partida (Ourense), e aproveitaremos o resto do dia para nos descansar e visitar a cidade.
Começaremos a andar na madrugada de Domingo, atravessando o rio Miño, cerca das 07:00h, uma hora antes do surgir das primeiras luzes do dia, depois de nos terem roubado umas duas horitas de sono, devido à mudança do fuso horário e a chegada da hora de verão. Com um pouco de sorte às 08:30 apreciaremos o nascer do sol em Sartédigos. Caso não se registem grandes paragens ou surpresas, cerca das 12:30 estaremos em Cea, após percorrermos cerca de 23 km.
Ao segundo dia de peregrinação corresponderá a menor distância kilométrica entre cidades, que será compensada pela dureza de várias subidas e descidas. Com um pouco de sorte visitaremos o mosteiro de Oseira. A pernoita será em Castro Dozón, e no dia seguinte chegaremos ao albergue de A Laxe.
O quarto dia de peregrinação será o mais longo, com mais de 30 km a percorrer, antes de chegar ao Albergue de Outeiro. Devido à extensão da etapa, serão mais ou menos oito horas a andar, por isso será necessário preparar um bom farnel, e as paragens nos tascos e bodegas será uma obrigação. A ultima estirada, de 5 km em que se sobe desde o rio Ulla até Outeiro poderá obrigar a uma pausa mais prolongada no vale, para recuperar forças para a ultima estirada.
O quinto e ultimo dia de peregrinação será novamente pouco exigente, somente 17 km sem grandes subidas nem descidas. Uma vez em Santiago, uma pernoita num hostal e uma janta num restaurante perto da Catedral é exigível, de forma a celebrar condignamente mais uma aventura.
quarta-feira, janeiro 27, 2010
É hoje. Definitivamente te abandono. Definitivamente vou embora. Sem um adeus escaparei pela porta fora. Dormes, descansas, sob o conforto dos nossos lençóis também tu te abandonas. Confias em mim, confias minhas palavras, excessivamente até. Porque tomaste as minhas palavras para ti, escolheste as que mais te convinham, como um perfume que dá textura à tua roupa, elas foram exaladas pois eram as palavras que precisavas ouvir. Ofereci-te também outras, gratuitamente, com um sorriso e sinceridade, mas essas tu não as quiseste, não ouviste, não ligaste, implicitamente recusaste aceitar eu ser quem eu sou. Definitivamente te abandono, pois hoje, silenciosamente tranco a porta e vou-me embora. Deixo as chaves de casa no tapete, fingindo-as esquecidas no chão. Os telefones também ficam, hão-te tocar na tua cabeceira quando acordares e ligares para mim. Cobardemente, eu assumo, não ter mais palavras para ti. Já as tive, e humildemente te as ofereci. Gastaste-as, usaste-as, ignoraste-as, espremeste o meu léxico para aproveitar o suco primaveril, cuspiste o restante consoante a tua conveniência. Silenciosamente te abandono. Sem um adeus, pois nem um adeus me deixaste para eu te deixar a ti.
segunda-feira, janeiro 04, 2010
quinta-feira, dezembro 17, 2009
quinta-feira, dezembro 10, 2009
"Pela janela mal fechada" já não se vislumbra o teu sorriso, não mais te vejo acenar adeus com uma camisola branca de mangas largas esvoaçando como uma borboleta, não mais partilho contigo o pequeno almoço da minha varanda, calei-me e emudeci a guitarra.
És agora distância transformada em sonho, distante miragem projectada sem fronteiras, longínqua ilusão esperançada pela tua simpatia, gramática trocada em fonemas esquisitos, complexo semântico de idiomas trocados, um calor eslavo arrebatado no vento, uma pena que ao se elevar nos céus ficou para sempre pesada no meu coração.
És agora distância transformada em sonho, distante miragem projectada sem fronteiras, longínqua ilusão esperançada pela tua simpatia, gramática trocada em fonemas esquisitos, complexo semântico de idiomas trocados, um calor eslavo arrebatado no vento, uma pena que ao se elevar nos céus ficou para sempre pesada no meu coração.
quarta-feira, dezembro 09, 2009
Copenhaga, Copenhagen, Cóbanhávan, Kaupmannahöfn, Kopenhagen, Kopenhaga, Копенгаген, کپنهاگ, קאָפּענהאַגען, 哥本哈根, 코펜하겐, โคเปนเฮเกน, ケーベンハウン, København, Hopenhagen!
Qual um velho fumador apodrecido com cancro sorvendo ar de um pulmão artificial, burgueses espalhados pelo mundo aguardam esperançosos o veredicto do concílio económico/diplomático que presentemente se desenrola nas frias terras dinamarquesas. Como velhas histéricas e puritanas vozes exigem reclamam apontam contradizem citam desmentem medeiam argumentam explicam demonstram propõem falam, falam muito. Como adolescentes expectantes e crédulos os ouvidos sorvem acreditam rezam vigiam especulam esperançam-se.
Estou-me a cagar, realmente a cagar para o empenho dos negociadores, os seus objectivos, os seus resultados. Estou-me a cagar, pois a solução está além das capacidades oratórias de meia dúzia procuradores encartados pelos interesses económicos de elites transnacionais. Estou-me a cagar porque a forma como as massas reagem é ela consequência do mesmo padrão comportamental que condenou o nosso mundo: a ignorância da consequência de alguns comportamentos individuais, o delegar da responsabilidade civilizacional a uma mão cheia de oligarcas, o conforto consumista que aquiesce às barbaridades ambientais e humanitárias. Estou-me a cagar para uma sociedade que aceita passivamente que a morte, fome, violência, desterro seja o dia a dia de milhões de habitantes neste mundo em favor da satisfação de caprichos, lazeres, ócios, mediocridades, petulâncias, manias, modas. Estou-me a cagar para uma classe média culta que despreza a natureza, as suas belezas, não aprecia a beleza na variedade de cores na foração da primavera, não olha o padrão pintarolado no céu nocturno pelas estrelas, que não conta as caracteras da lua quando reflecte a luz solar sobre a terra, não acompanha o padrão do voo das aves ou dos insectos mas olha invejosamente para o rasto do avião que rasga o azul. Estou-me a cagar porque não vale a pena chorar a morte de um amigo que não soubemos prezar, mimar, acompanhar, encorajar, fortalecer, compartilhar, tal como temos demonstrado não sabermos ser amigos da nossa biosfera.
Qual um velho fumador apodrecido com cancro sorvendo ar de um pulmão artificial, burgueses espalhados pelo mundo aguardam esperançosos o veredicto do concílio económico/diplomático que presentemente se desenrola nas frias terras dinamarquesas. Como velhas histéricas e puritanas vozes exigem reclamam apontam contradizem citam desmentem medeiam argumentam explicam demonstram propõem falam, falam muito. Como adolescentes expectantes e crédulos os ouvidos sorvem acreditam rezam vigiam especulam esperançam-se.
Estou-me a cagar, realmente a cagar para o empenho dos negociadores, os seus objectivos, os seus resultados. Estou-me a cagar, pois a solução está além das capacidades oratórias de meia dúzia procuradores encartados pelos interesses económicos de elites transnacionais. Estou-me a cagar porque a forma como as massas reagem é ela consequência do mesmo padrão comportamental que condenou o nosso mundo: a ignorância da consequência de alguns comportamentos individuais, o delegar da responsabilidade civilizacional a uma mão cheia de oligarcas, o conforto consumista que aquiesce às barbaridades ambientais e humanitárias. Estou-me a cagar para uma sociedade que aceita passivamente que a morte, fome, violência, desterro seja o dia a dia de milhões de habitantes neste mundo em favor da satisfação de caprichos, lazeres, ócios, mediocridades, petulâncias, manias, modas. Estou-me a cagar para uma classe média culta que despreza a natureza, as suas belezas, não aprecia a beleza na variedade de cores na foração da primavera, não olha o padrão pintarolado no céu nocturno pelas estrelas, que não conta as caracteras da lua quando reflecte a luz solar sobre a terra, não acompanha o padrão do voo das aves ou dos insectos mas olha invejosamente para o rasto do avião que rasga o azul. Estou-me a cagar porque não vale a pena chorar a morte de um amigo que não soubemos prezar, mimar, acompanhar, encorajar, fortalecer, compartilhar, tal como temos demonstrado não sabermos ser amigos da nossa biosfera.
sexta-feira, outubro 30, 2009
através do vidro duplo desfilam os tijolos castanhos e cinzentos, aproximando-nos da saida. dentro da carruagem corpos e vontades são pesados, avaliados, esquecidos a maior parte, poucos permanecem na memória mais que meio minuto. as vidas desfilam ignorando-se mutuamente, mudas de sentido, avarentos na partilha, fingem-se invisiveis, ignoram outras presenças. a viagem é um frete, um desperdicio de vida, um adiantamento da eternidade dentro do solo. dentro da terra deixamos de pertencer ao mundo, somos parte das trevas, a humanidade enterrada no solo metropolitano.
Subscrever:
Mensagens (Atom)