Copenhaga, Copenhagen, Cóbanhávan, Kaupmannahöfn, Kopenhagen, Kopenhaga, Копенгаген, کپنهاگ, קאָפּענהאַגען, 哥本哈根, 코펜하겐, โคเปนเฮเกน, ケーベンハウン, København, Hopenhagen!
Qual um velho fumador apodrecido com cancro sorvendo ar de um pulmão artificial, burgueses espalhados pelo mundo aguardam esperançosos o veredicto do concílio económico/diplomático que presentemente se desenrola nas frias terras dinamarquesas. Como velhas histéricas e puritanas vozes exigem reclamam apontam contradizem citam desmentem medeiam argumentam explicam demonstram propõem falam, falam muito. Como adolescentes expectantes e crédulos os ouvidos sorvem acreditam rezam vigiam especulam esperançam-se.
Estou-me a cagar, realmente a cagar para o empenho dos negociadores, os seus objectivos, os seus resultados. Estou-me a cagar, pois a solução está além das capacidades oratórias de meia dúzia procuradores encartados pelos interesses económicos de elites transnacionais. Estou-me a cagar porque a forma como as massas reagem é ela consequência do mesmo padrão comportamental que condenou o nosso mundo: a ignorância da consequência de alguns comportamentos individuais, o delegar da responsabilidade civilizacional a uma mão cheia de oligarcas, o conforto consumista que aquiesce às barbaridades ambientais e humanitárias. Estou-me a cagar para uma sociedade que aceita passivamente que a morte, fome, violência, desterro seja o dia a dia de milhões de habitantes neste mundo em favor da satisfação de caprichos, lazeres, ócios, mediocridades, petulâncias, manias, modas. Estou-me a cagar para uma classe média culta que despreza a natureza, as suas belezas, não aprecia a beleza na variedade de cores na foração da primavera, não olha o padrão pintarolado no céu nocturno pelas estrelas, que não conta as caracteras da lua quando reflecte a luz solar sobre a terra, não acompanha o padrão do voo das aves ou dos insectos mas olha invejosamente para o rasto do avião que rasga o azul. Estou-me a cagar porque não vale a pena chorar a morte de um amigo que não soubemos prezar, mimar, acompanhar, encorajar, fortalecer, compartilhar, tal como temos demonstrado não sabermos ser amigos da nossa biosfera.
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