No meio do charco, reinando incontestado sobre os nenúfares, um sapo grande, velho, verde, pachorrento, coaxa uma melancolia que ribombava entre as águas estagnadas. Em baixo, na realidade submersa, ocupados a sobreviver aos primeiros estágios da sua condição batráquida, os girinos nadam e escondem-se, brincando entre as carícias da luz solar e a protecção das frias águas escuras. Os pequenos, na sua fragilidade e inocência, mantêm-se prudentemente afastados do solitário senhor da superfície.
Entre os sapos adultos são raros os que permanecem no sapal, e mais raros são os que ficam até tão avançada idade. Normalmente, quando jovens e saltitantes, o verde lustroso da sua pele e a alegria cativante do seu canto seduz uma bela Princesa que procura o seu príncipe, e recebendo um osculo repenicado, zás-trás-pás, ficam humanos para o resto das suas vidas. Quando não têm sucesso, e nenhuma princesa responde às suas serenatas incessantes, desencantam-se, perdem-se dos seus sonhos, e gradualmente silenciam a mágoa da solidão afastando-se cada vez mais das águas encantadas, até se perderem para sempre do príncipe que existe no sapo. Assim costumam ser os destinos. Amar e ser amado, ou partir sem olhar para trás. Nunca ficar. Ou quase nunca. Por essa razão era este sábado tão peculiar, especialmente aos olhos dos efémeros girinos. Olhavam e admiravam aquela figura solitária que desde sempre e para sempre projectava a sua silhueta e a voz por entre as àguas. Muito por respeito, e mais ainda por receio, evitavam abeirar-se do trono de folhas reclamado por tão magestosa e imponente criatura.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Sapo.
Enviar um comentário